
Durante mais de 30 anos, muitos acreditavam que essas flores estavam extintas, afundadas em sujeira. No entanto, o renascimento das lótus está despertando admiração entre os residentes do maior lago da Caxemira, que se localiza em uma região montanhosa fazendo fronteira entre Índia, Paquistão e China.
“Quando a natureza renasce, ressuscita tudo o que um dia sustentou – modos de vida, tradições, biodiversidade. Presenciar essas flores florescer novamente, após tanto tempo, é um verdadeiro testemunho da história renascentista”, comentou Meera Sharma, uma ambientalista de Nova Déli, ao The Guardian.
O Poder Simbólico da Flor de Lótus
A flor de lótus, com uma rica herança cultural que remonta a milênios, é um ícone nas tradições budista e hindu, representando pureza e iluminação espiritual, uma vez que brota de forma limpa e magnífica do barro.
Além de seu simbolismo,a planta é valorizada na culinária e na medicina tradicional asiática. Recentemente,uma semente que permaneceu dormindo por cerca de 1.200 anos foi cultivada na China, reforçando a longevidade desta flor.
Ressurgimento do Lago Despoluído
No início do século XXI, o Lago Wular, que originalmente cobria uma área de 228 quilômetros quadrados, encolheu para um terço desse tamanho até 2007, com áreas se tornando depósitos de lixo e a vida aquática diminuindo drasticamente.
Em 1992, uma inundação devastadora despejou grandes quantidades de sedimentos no lago, soterrando as plantas de lótus. Os moradores temeram que isso significasse o fim de uma espécie vital, cujos caules eram consumidos e que sustentavam o trabalho de cerca de 5 mil pessoas.
Contudo, um ambicioso programa de despoluição da Autoridade de Conservação e Gestão do Wular (WUCMA) resultou em melhorias significativas. Através de um extenso trabalho de dragagem, o lago começou a se reerguer. “Não se trata apenas do renascimento de uma planta, mas da revitalização de um ecossistema cultural”, destacou Meera Sharma em sua reflexão sobre o projeto.
A Recuperação das Raízes
A WUCMA dedicou esforços à contenção da poluição proveniente do Rio Jhelum e seus afluentes, antes de iniciar o metódico e demorado processo de desassoreamento do lago.
Após cinco anos,oito milhões de metros cúbicos de lodo foram removidos,e o momento mágico chegou: as raízes das lótus,que estiveram dormentes por tanto tempo,começaram a surgir novamente. Agora, pela primeira vez em 33 anos, as plantas florescem.
Os moradores também voltam a preparar pratos que usam o caule da flor de lótus, como o nadru. “O caule conecta nossa culinária à terra… agora que ele está de volta, estamos preparando receitas como nossas avós fizeram: lentas, simples e carregadas de memórias”, compartilhou Tavir Ahmad, chef de um mercado local.
Esse renascimento não só representa a resiliência da flor de lótus, mas também se tornou um símbolo de esperança e perseverança humana, demonstrando que a luta pela recuperação e restauração é sempre válida.