Com o dólar acima dos R$ 5 e IOF (imposto sobre operações financeiras) de 4,38% nas compras com o cartão de crédito no exterior, turistas brasileiros passaram a investir nos Estados Unidos para baratear os gastos lá fora. Além das transferências para as contas investimento usarem a cotação do dólar comercial, que é mais barata que o turismo, o IOF sobre essas remessas é bem menor: de 0,38%.
Segundo dados do Banco Central, o volume de investimento de brasileiros no exterior saltou quase 30 vezes nos últimos 20 anos. Em 2003, esse fluxo era de apenas R$ 1,6 bilhão. Em 2023, somou R$ 46 bilhões. Em termos líquidos, as transações saíram de um saldo negativo de US$ 179 milhões para US$ 4,5 bilhões positivos, no mesmo intervalo.
“A vantagem da custódia do exterior é estar atrelado à moeda forte, com jurisdição internacional e leis diferentes, protegendo o patrimônio em país de primeira linha, podendo utilizar esse investimento para bancar as compras em viagem”, diz Alexandre Brito, sócio e gestor da Finacap Investimentos.
De acordo com especialistas, a abertura deste mercado para além dos super-ricos possibilitou essa expansão. Hoje, muitos bancos e diversas fintechs oferecem contas transacionais (equivalente às contas correntes) e de investimento no exterior.
Segundo Glauber Mota, CEO da Revolut, a fintech britânica de conta global em breve também deve entrar nesse segmento, atendendo à demanda dos seus clientes. “O mais pedido é a remuneração do dinheiro em conta, para que o dólar ou o euro comprado não fique parado, e sim rendendo”, diz. Por ora, a Revolut oferta apenas criptomoedas.
No entanto, para aproveitar o IOF mais barato sem que a transação configure evasão fiscal, é necessário que o valor transferido fique investido por certo tempo. Segundo o C6 Bank, que também oferta ambas as contas em dólar, as transações entre a conta investimento e a conta transacional são monitoradas para evitar que o contribuinte recolha impostos de forma indevida. “Dependendo do volume e da frequência, o banco bloqueia a conta”, diz Igor Rongel, diretor de investimentos do C6 Bank, que oferece seis operações de renda variável gratuitas por mês.
Além de um IOF menor, outra vantagem para os brasileiros investirem nos EUA é o alto patamar dos juros americanos. Atualmente eles estão entre 5,25% a 5,50% ao ano, o maior nível desde 2001. A dica de especialistas é que, ao planejar uma viagem para o exterior, faça compras esparsadas de dólares, deixando-os investidos, de modo a constituir um menor preço médio até a data da viagem, sem perder dinheiro para a inflação.
Para isso, porém, há o custo do spread cambial (taxa que as instituições cobram ao trocar reais por dólares), além da taxa de corretagem, que variam de acordo com a corretora e até de acordo com a faixa de cliente.
Em média, o spread cambial gira em torno de 1% a 3%. Já a corretagem varia mais, indo de US$ 0,25 a US$ 7,50 por ordem. Porém, há muitas instituições que passaram a oferecer taxa zero.
Uma delas é a Nomad, que dá acesso a contas transacional e de investimento nos EUA, sendo possível comprar ativos americanos como ações, ETFs (fundos de índice) e REITs (fundos imobiliários americanos). Apesar de não cobrar corretagem, a fintech cobra uma taxa operacional de até 2% por operação e uma taxa fixa de US$ 10 quando o dinheiro é enviado de volta para o Brasil.
Atualmente, a instituição tem 1,5 milhões de correntistas, com R$ 2,5 bilhões em ativos sob custódia.
“A maioria tem um comportamento mais conservador e tem na carteira ETFs de renda fixa e títulos do tesouro americano de curto prazo, pelo baixo risco e juros altos”, afirma Caio Fasanella, diretor de investimentos da Nomad.
O Banco Inter também oferece taxa de corretagem zero. O custo fica por conta do spread cambial, que varia de 0,99% a 1,5%, de acordo com a segmentação do cliente. Quanto mais se investe, menor o custo. O IOF cobrado neste caso, porém, é o referente à contas transacionais, de 1,1%.
Segundo dados de maio, mais de 3 milhões de clientes do banco já usam a conta global, somando US$ 123 milhões em depósitos e US$ 336 milhões em investimentos.
É possível fazer a transferência dos investimentos nos EUA entre de um banco para outro, mas há um custo de, em média, US$ 75. Para atrair grandes clientes, a Nomad oferece um reembolso parcial ou total desta taxa a quem transferir mais de US$ 10 mil para a fintech.
A Avenue, corretora nos EUA feita por e para brasileiros, oferece três corretagens grátis por mês. Ultrapassada a cota, são cobrados US$ 2,50 a US$ 7,50 por ordem. Já o spread cambial varia de 1,4% a 2%, de acordo com o valor investido.
Segundo a Avenue, as ações mais buscadas por brasileiros são papéis que também estão disponíveis no Brasil via BDRs (recibos de ações negociadas no exterior), como Apple, Coca-Cola, Realty Income, Disney e Amazon.
Os grandes bancos também se movimentam para ofertar produtos semelhantes. O Itaú comprou uma participação na Avenue e o Bradesco lançou o Bradesco Invest US, por enquanto apenas com carteiras compostas por ETFs, de acordo com o perfil de investidor.
“A ideia é trazer o cliente que vai gastar, que vai viajar”, diz Henrique Lima, diretor do Bradesco Bank, braço do banco em Miami.
O Santander estreou sua conta global transacional ao fim de 2023 e, em março, o Banco do Brasil reduziu o IOF cobrado no cartão de crédito dos clientes alta renda para 1,1% —a diferença para os 4,38% cobrados pela Receita Federal será arcada pelo banco. Na mesma direção, o Porto Bank zerou o IOF do seu cartão de crédito (que será reembolsado via cashback na fatura) e o Nubank se uniu à Wise para ofertar uma conta global transacional aos seus clientes alta renda
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