A 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Pedro Leopoldo identificou cinco documentos com irregularidades, configurando falsidade ideológica, durante o desembarque dos 211 brasileiros deportados dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (26), no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana.
Nos cinco documentos, havia erros em declaração de união estável, certidão de casamento e declarações de paternidade. Os casos serão remetidos para as comarcas onde os crimes foram cometidos. Ninguém foi preso.
Dentre os deportados, 90 eram menores de idade, incluindo crianças de até 10 anos. Segundo a Comarca de Pedro Leopoldo, todas as crianças e adolescentes estavam acompanhadas por pelo menos um responsável com vínculo biológico.
O voo, vindo do Arizona, chegou às 13h27. Foi o maior número de deportados em um único avião.
Os passageiros só foram liberados quase quatro horas depois da chegada ao Brasil. Todos foram interrogados logo após o desembarque.
O esquema ‘Cai-cai’
Segundo o delegado da Polícia Federal Daniel Fantini, “cai-cai” é uma forma de entrar nos Estados Unidos através da fronteira com o México. Um casal de amigos/conhecidos simula uma união estável. A criança é filha de um deles. Forjam estar em um núcleo familiar e se entregam às autoridades americanas pedindo asilo, que, em alguns casos, é concedido.
Usam documentos falsos de paternidade ou maternidade para dizer que aquelas pessoas representam uma família.
“Antes do governo Trump, quando chegava família com crianças, as pessoas não eram detidas para evitar a prisão destas crianças. Recebiam ordem para comparecer à justiça e dizer as condições que estavam no país, mas nunca mais apareciam, já que o objetivo de entrar nos EUA estava alcançado. É muito arriscado fazer essa travessia e com criança é mais ariscado ainda”, alertou Fantini.
O delegado explicou que o esquema facilita a imigração ilegal. Ou seja, usam a criança para tentar evitar que a deportação seja imediata.
“Caso seja identificada a atuação dessas pessoas, dessas quadrilhas envolvidas na remessa ilegal de menor de idade pro exterior, elas serão investigadas e se, eventualmente, encontrar as responsabilidades, vão ser levadas à Justiça”.
Um homem estava com a mulher e a filha de 8 anos. Ele contou que, enquanto esteve sob responsabilidade das autoridades americanas, ficou afastado da família.
“Foi dolorido, porque chega lá, separa. Eu não vejo ela, fica com a mãe dela para um canto, eu fico para o outro. Não vê ninguém. Chamou a gente lá na hora de deportar, foi aí que eu a vi”.
Desde o fim de 2019, quando o governo mudou a política de trato de cidadãos no exterior, já foram 51 voos vindos dos Estados Unidos trazendo brasileiros expulsos por tentar entrar ilegalmente naquele país. Ao todo, 3.831 pessoas.
“Não é nada do que as pessoas falam. Não aconselho ninguém a ir. E se eu soubesse que seria assim, não teria voltado”, conta um dos deportados.
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