Por Laís Oliveira
A instabilidade econômica e política que afetou o Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, teve impacto direto sobre a moeda nacional. Após um período de valorização do Real entre 2003 e 2014, o dólar voltou a subir desde então, ultrapassando o valor de R$ 4,00 – patamar não visto desde que o ex-presidente Lula assumiu o poder.
Oscilando entre R$3 e R$4 entre 2016 e 2018, o dólar comercial abriu 2019 em alta e desde então não caiu mais. Para se ter uma noção, o dólar fechou 2019 com uma alta de 3,5% no ano. Com a chegada da pandemia de covid-19 em 2020, a economia desandou de vez e o dólar alcançou um patamar nunca antes visto. A moeda subiu da média R$4,00 e chegou a bater R$5,84 em maio de 2020.
O primeiro ano de pandemia seguiu concentrando a alta, com queda apenas de alguns centavos em alguns meses, mas com o dólar ainda na casa dos R$5,00. Em 2021 o cenário se manteve o mesmo. Dólar sempre acima de R$5,00 durante todo o ano. E a previsão é pessimista para 2022.
A Capital Economics, uma consultoria independente de pesquisa econômica com sede em Londres, prevê que o dólar suba ainda mais em 2022. Riscos fiscais elevados, deterioração dos termos de troca do Brasil e um ambiente externo menos favorável devem levar o real a se enfraquecer ainda mais em 2022 e o dólar pode chegar ao patamar de R$6,00, revela a consultoria. Mas afinal o que é melhor para a economia do Brasil? Dólar alto ou dólar baixo?
Em 2015, quando o dólar começou a subir e passou de R$ 4, muitos brasileiros achavam que isso não as afetaria, pois não tinham planos de viajar para o exterior. Mas a verdade é que a variação do dólar, seja para mais ou para menos, interfere na vida de todo cidadão.
Como a Cotação do Dólar Influencia em Nosso Dia a Dia
É importante entender que a cotação do dólar influencia em vários setores da economia: o dólar alto favorece a quem exporta e dificulta a vida de quem quer gastar no exterior. A primeira coisa que costumamos pensar é que o dólar valorizado é bom para a economia nacional, pois o aumento das exportações ajuda a equilibrar a balança comercial. Isso é verdade em relação às empresas exportadoras que, por terem custos em reais e receitas em dólar, se beneficiam com a alta da moeda norte-americana.
Com os produtos importados mais caros, itens nacionais ganham força, incentivando o mercado interno e, isso, de certa maneira é bom, pois aumenta a atividade industrial, gerando mais empregos. Mas se é bom por um lado, por outro pode causar aumento na inflação. Quando o dólar está baixo, a importação de produtos ajuda a segurar os preços, mas quando é o Real que perde força, a maior procura por produtos nacionais causa aumento de preços.
O dólar alto também influencia na bolsa de valores favorecendo investimentos externos no país. Quando os investidores estrangeiros percebem que o preço das ações de empresas brasileiras com capacidade de crescimento e valorização está barato, investem nessas empresas injetando a moeda americana no mercado. Sendo assim, a queda do real frente ao dólar transforma as ações brasileiras em um negócio melhor para os investidores, é o que explica o economista Newton Marques.
Já o dólar baixo significa estabilidade na economia, pois os favorecidos são os importadores, que compram mercadorias em dólar para revender em real, obtendo um lucro maior. Neste cenário de dólar valendo menos, a indústria local também se beneficia podendo comprar matéria prima mais em conta. Com a concorrência dos produtos importados mais baratos e matéria prima mais acessível, o preço do produto nacional cai e segura a inflação.
Para quem quer viajar para o exterior, o melhor cenário é quando a cotação do dólar está em baixa. Com um maior poder de compra da moeda brasileira no exterior, as passagens internacionais ficam mais baratas assim como hospedagens, alimentação e passeios. Já para quem é um brasileiro vivendo nos Estados Unidos, o dólar mais alto é um cenário favorável.
Atualmente, entre 50% e 80% da comunidade de 1,2 milhão de brasileiros nos EUA enviem dinheiro regularmente para parentes e amigos no Brasil. Cada migrante ajuda, em média, 1,2 famílias. Isso significa que entre 720 mil e 1,1 milhão de famílias recebem periodicamente recursos do exterior, diretamente injetados na economia doméstica. Então nem sempre um cenário desfavorável no Brasil representa o mesmo nos EUA.
Para Leonardo Abrão Filho, CEO de um famoso site de comparação de câmbio, a curto prazo alguns setores são beneficiados com a alta do dólar, mas no médio e longo prazo, todos perdem, pois isso ocorre porque a economia está enfraquecida. Por outro lado, o dólar valer muito pouco frente ao Real também é uma situação que não representa estabilidade.
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