Belém é, neste novembro, o epicentro do debate climático global. Pela primeira vez, o Brasil recebe uma Conferência do Clima da ONU, a COP30, trazendo ao coração da Amazônia líderes mundiais, especialistas, representantes de comunidades, setor privado e sociedade civil para discutir, de maneira inédita, a urgência de frear o avanço das mudanças climáticas.
O desafio central é reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa e fechar a distância entre promessas e ações concretas. As reuniões em Belém acontecem sob expectativa de avanços reais nos compromissos internacionais, após resultados tímidos das últimas conferências. O Brasil chega com credenciais importantes: redução de 16,7% das emissões em 2024, a maior queda desde 2009, impulsionada pela desaceleração do desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado. O país reafirmou sua meta de cortar em até 67% as emissões até 2035, com plano para zerar o desmatamento ilegal já em 2030 e eliminar o desmatamento total até 2035.
Mais do que anfitrião, o Brasil tenta se afirmar como mediador entre as potências desenvolvidas e os países em desenvolvimento, defendendo uma transição justa que equilibre prosperidade e preservação. Autoridades globais — do secretário-geral da ONU a líderes europeus, africanos e asiáticos — cobram da conferência decisões capazes de transformar discurso em plano real: triplicar a capacidade de energia renovável, abandonar gradualmente os combustíveis fósseis e financiar de forma robusta a transição ecológica, especialmente em nações mais vulneráveis.
No centro das negociações estão Belém e as contradições brasileiras. O país mostra avanços em governança ambiental, inovação e finanças verdes, mas é cobrado por autorizar novos projetos de exploração de petróleo na margem equatorial às vésperas da cúpula — um gesto que lança sombra sobre seu discurso de liderança climática. Ao mesmo tempo, a presença ativa de lideranças indígenas, comunidades ribeirinhas e organizações da sociedade civil reforça que as soluções precisam nascer também dos territórios e não apenas das planilhas diplomáticas.
O desafio até o fim da COP30 será construir consenso sobre mecanismos de acompanhamento de metas, ampliar o financiamento climático e garantir que os compromissos assumidos sejam mensuráveis e eficientes — questão urgente, já que apenas 30% das emissões globais estão cobertas por metas atuais, longe da redução de 60% recomendada pela ciência.
Belém entrega ao Brasil protagonismo, mas também expõe responsabilidades. Cabe aos negociadores transformar esperança em resultado prático. O que está em jogo é mais do que acordos multilaterais: é o futuro de comunidades inteiras, da Amazônia e dos ecossistemas globais. Até o último dia da COP30, o mundo espera liderança, ambição e, acima de tudo, ação de quem tem a oportunidade — e a obrigação — de entregar um novo pacto climático.
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