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Centro de detenção onde morreu o brasileiro Kesley Vial tem acúmulo de denúncias de maus tratos

O centro de detenção onde estava o brasileiro Kesley Vial, morto na última semana após quatro meses detido por agentes de imigração nos EUA, acumula acusações de maus-tratos por órgãos de direitos humanos. Em março, o Departamento de Segurança Interna dos EUA chegou a pedir a suspensão das operações do local. Kesley Vial, 23, morreu
Centro de detenção onde morreu o brasileiro Kesley Vial tem acúmulo de denúncias de maus tratos

O centro de detenção onde estava o brasileiro Kesley Vial, morto na última semana após quatro meses detido por agentes de imigração nos EUA, acumula acusações de maus-tratos por órgãos de direitos humanos. Em março, o Departamento de Segurança Interna dos EUA chegou a pedir a suspensão das operações do local.

Kesley Vial, 23, morreu no dia 24 em Albuquerque, no estado do Novo México. Segundo Rebecca Sheff, advogada da ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis), que presta assistência à família, ele se suicidou.

O brasileiro havia sido detido no fim de abril por agentes da Patrulha de Fronteira em El Paso, no Texas, após entrar no país de forma irregular. Sob custódia do ICE, ele foi levado ao Centro de Detenção do Condado de Torrance.

Centro de detenção onde morreu o brasileiro Kesley Vial tem acúmulo de denúncias de maus tratos

Fundado em 1990, o TCDF fica em Estancia, a pouco menos de 100 quilômetros de Albuquerque, e é administrado por uma empresa privada, a Core Civic, que gerencia 113 centros do tipo no país.

Os detidos ficam no local até receberem um parecer sobre seus pedidos de asilo nos EUA. O orçamento mensal do centro é de US$ 2 milhões por mês e, com capacidade para 979 pessoas, o local abrigava 491 detidos em dezembro de 2021, data do último relatório disponível.

Em março, o inspetor-geral do Departamento de Segurança Interna, Joseph Cuffari, divulgou um alerta de 19 páginas pedindo a remoção de todos os detidos do TCDF após encontrar uma série de problemas no local. Segundo o órgão, o centro deveria ter 245 funcionários em tempo integral, mas só tem 133. Dos 112 postos vagos, 94 são na área de segurança. O órgão inspecionou as 157 celas ocupadas na ocasião e encontrou condições sanitárias ruins em 83 delas, com privadas e pias entupidas e falta d’água, o que “pode levar a problemas de saúde tanto dos detidos quanto dos funcionários”.

Inside a private prison's $150M deal to detain immigrants in New Mexico -  Reveal

Rebecca Sheff, advogada da ACLU que acompanha o caso, afirma que o relatório chamou a atenção porque teria sido a primeira vez que o Departamento de Segurança Interna recomendou a interrupção de serviços de um centro de detenção. “As condições são péssimas. A água não é potável, os imigrantes precisam comprar água engarrafada; banhos têm sido racionados, a comida frequentemente é intragável e há dificuldade de acesso a medicamentos, a dentista e a serviços de saúde mental”, diz.

Segundo a advogada, os agentes do ICE raramente conversam pessoalmente com os detidos, o que torna difícil o acesso a informação sobre o status legal dos pedidos de asilo ou liberação.

Kesley estava sob custódia do ICE desde 29 de abril. Sheff afirma que ele pediu asilo alegando correr riscos no Brasil, mas teve o pedido negado. Ele recorreu e teve o pedido novamente negado em junho, quando um juiz ordenou sua deportação, o que não ocorreu até ele ser encontrado desacordado na cela em 17 de agosto, quando foi levado ao hospital da Universidade do Novo México, onde morreu.

O local já vinha sendo denunciado por grupos que trabalham com direitos humanos e imigração no estado. “[A morte de Kesley] é exatamente o que temíamos que acontecesse. Organizações alertaram por anos das condições brutais e inumanas em Torrance”, disseram, em nota, entidades que monitoram a situação dos imigrantes no estado. Os grupos acusaram guardas de atacar detentos e de dificultar o acesso a advogados dos detidos. O ICE não comentou as denúncias das entidades de direitos humanos.

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