Brasileiros nos Estados Unidos se mobilizam contra a violência direcionada a imigrantes e afirmam estar sofrendo perseguições. Em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira em Boston, organizações voltadas ao apoio de imigrantes brasileiros anunciaram que enviaram uma carta ao governo Lula solicitando ações concretas e o fortalecimento dos consulados, que estão sob pressão devido ao aumento significativo da demanda.
Atualmente, alguns consulados recebem cerca de 5 mil solicitações de certidões de nascimento e 20 mil pedidos de passaportes. Este movimento representa a primeira iniciativa estruturada dos brasileiros no exterior desde a eleição de Donald Trump. O aviso se torna ainda mais urgente quando se considera que as prisões de brasileiros aumentaram em 400% desde o início do ano, e entre abril e maio, a escalada foi de 50%, embora o número total não tenha sido divulgado. Abaixo, estão as quatro solicitações principais feitas ao governo Lula:
- intervenção com o governo americano para a implementação de convenções contra tortura e abusos;
- Ampliação da capacidade consular para emissão de documentos;
- Organização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados com a participação de organizações da sociedade civil;
- Estabelecimento de canais permanentes de comunicação com os postos diplomáticos;
As entidades levantam preocupações sobre violações dos direitos humanos e pedem uma resposta rápida das autoridades brasileiras diante da deportação e prisão de inúmeras pessoas. Álvaro Lima, fundador do Instituto Diáspora Brasileira e colaborador da prefeitura de Boston, destacou que a comunidade brasileira contribui com bilhões de dólares para a economia local, gerando 82 mil empregos diretos e indiretos.
“Estamos sendo caçados como animais, mas somos seres humanos. É fundamental que atuemos e que o nosso governo nos apoie”, afirmou. Priscila Souza, deputada estadual em Massachusetts, afirmou seu apoio à comunidade brasileira, ressaltando que os imigrantes fazem parte da história dos Estados Unidos. Ela mencionou que até mesmo alguns representantes republicanos estão desconcertados com a gravidade das violações. “Não esperávamos que a situação fosse tão extrema”, relatou.
Casos alarmantes de abuso
No encontro, várias organizações compartilharam relatos de abusos contra imigrantes. Lenita Reason, da Brazilian Worker Center, afirmou que muitos brasileiros estão com medo de sair de casa. “A comunidade vive em um clima de temor.Temos pessoas sendo presas e levando mais de 12 horas dentro de carros antes de serem levadas a uma prisão”, informou. “Estamos clamando por mais recursos para os nossos consulados, pois a demanda aumentou enormemente”, enfatizou.
Ela acrescentou que, apesar de o governo Lula não poder intervir diretamente com as ações do governo Trump, há espaço para fortalecer os consulados. “As filas são imensas para registro de crianças”, disse. Lenita também destacou que muitas famílias desejam retornar ao Brasil, mas carecem de documentos para isso. Além disso, alertou sobre as precárias condições de saúde de pessoas detidas, como a necessidade de consumir água da torneira.
Renata Bozzeto, da Florida Immigrant Coalition, relatou sobre a atuação da polícia local, que gera insegurança. Um veículo, por exemplo, pode ser parado por uma simples infração, resultando na prisão do motorista por irregularidades migratórias. Ela também mencionou que muitos imigrantes que buscavam regularizar sua situação em oficinas oficiais acabaram sendo detidos logo após apresentarem seus documentos. “Eles não conseguem nem se despedir de seus filhos. Isso é desumano”, lamentou.
patrick Garcia, da Carolina do norte, pediu que os consulados brasileiros não critiquem aqueles que buscam ajuda para retornar ao Brasil. “Ninguém tem o direito de questionar o medo que alguém sente. Se uma família decide voltar, essa escolha deve ser respeitada”, afirmou. Ele compartilhou a história de um brasileiro que aguardou meses para obter assistência para voltar ao seu país. Antonio Massa, advogado, frisou a mudança na abordagem das autoridades americanas em relação aos imigrantes, colocando em risco direitos fundamentais. “O governo Trump estabeleceu cotas, precisando prender 3 mil pessoas por dia”, comentou. Segundo ele,até mesmo o direito ao habeas corpus vem sendo desrespeitado.
Ele relatou o caso de um cliente que, após ser detido, ficou em uma sala tão lotada que não havia espaço nem para se sentar no chão.Outro relato incluiu a presença de agentes de imigração em uma cidade próxima a Boston, perto de uma igreja, no domingo. “Há uma atmosfera de terror”, disse ele. Um fenômeno preocupante também é o desaparecimento de brasileiros de restaurantes e comércios mantidos por imigrantes.Segundo as organizações, em algumas localidades, o movimento caiu para metade, colocando em risco a sobrevivência desses negócios. Na carta enviada ao governo em Brasília, as entidades também relataram casos de tortura e informaram que crianças estão sendo algemadas.
Desafios nos consulados
Recentemente, o governo brasileiro sinalizou que intensificaria o foco nos imigrantes, buscando resolver problemas relacionados à emissão de certidões de nascimento. No entanto, informações exclusivas do UOL revelaram que a falta de pessoal nos consulados brasileiros nos Estados Unidos está contribuindo para o crescente número de solicitações. Muitos cidadãos procuram renovação de passaportes e certidões de nascimento,evitando a separação de seus filhos em caso de deportação.
Desde a implementação das políticas de imigração de Donald Trump, o consulado em Boston testemunhou um aumento de sete vezes na demanda por serviços emergenciais comparado ao ano de 2024. Apesar disso, a comunidade clama por ações mais efetivas do Itamaraty. O documento de denúncia foi assinado por diversas entidades, incluindo o Brazilian Worker Center, Grupo Mulher Brasileira, Brazilian American Center, Instituto Diáspora Brasil, e a florida Immigrant Coalition, além de deputados brasileiros em Massachusetts e outros grupos.
Os dados mostram que a comunidade brasileira nos Estados Unidos já ultrapassa 2 milhões de pessoas,com aproximadamente 57% vivendo em condições de vulnerabilidade migratória – seja com visto temporário,residência permanente ou sem status legal. Liana Costa, também atuando na defesa da comunidade, enfatizou a necessidade de o Itamaraty desenvolver soluções para a validação de documentos de forma remota e alertou que os consulados estão incapazes de atender ao volume de solicitações que surgiu nos últimos meses. “É crucial que os consulados recebam suporte”, concluiu.
// Fonte: UOL.
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