Thais Natali Montenegro Lenda, de 23 anos, de Brasília (DF), relata o drama que viveu com a morte da filha de um ano e do marido, que se afogaram na tentativa de atravessar o Rio Grande, na fronteira com os EUA. Ela fala o que aconteceu
Da Redação
O drama da brasileira Thais Natali Montenegro Lenda, de 23 anos, de Brasília (DF), comove a todos quando faz seu relato. A filha Eloah, de 1 ano e 11 meses, e o marido Daniel Lenda, morreram na travessia do México. Pai e filha se afogaram quando tentavam atravessar o Rio Grande, na fronteira do México com os EUA. Com a filha nos braços, Thais conseguiu chegar à margem do rio, do lado americano, mas o companheiro, depois de se debater desesperado, desapareceu nas águas.
Sem saber que carregava nos braços a filha morta – a criança também se afogou –, Thais implorou por ajuda, correndo com a menina desfalecida aos prantos. Equipes de resgate durante mais de uma hora tentaram reanimar a bebê, que chegou a ser levada em um hospital, mas não resistiu.
Pai e filha foram cremados com o dinheiro que a brasileira conseguiu arrecadar através de doações de líderes de igrejas locais. Lembrando que o corpo de Daniel, só foi encontrado quatro dias depois.
O sonho de ter uma vida melhor nos EUA tinha se tornado um pesadelo para Thaís. Disse a jovem que o marido a tinha incentivado a deixar tudo para trás e tentar uma vida nova em solo americano.
Thais, a filha e o marido iniciaram a viagem aos EUA pegando um voo de São Paulo para o Peru, em janeiro de 2022, após três meses de planejamento. Eles venderam móveis e objetos pessoais para juntar o máximo de dinheiro.
O casal foi para México onde passou um mês no Estado de Chiapas, até receber um visto de turista para permanecer no país. E assim que a documentação foi emitida, Daniel sugeriu que eles viajassem para a cidade de Acuña, na fronteira com os EUA.
Pressentiu o perigo
Conta Thais que na véspera da travessia para chegar ao Rio Grande e entrar nos EUA, ela pressentiu o perigo. Quis desistir, mas Daniel insistia e o casal discutiu. A única noite em Acuña foi de brigas entre eles, segundo Thais, porque o marido estava irredutível, determinando que a família atravessasse o rio para chegar aos EUA.
“Quando a gente começou a atravessar o Rio Grande, estava no nível do pé. Eu estava nervosa, e Daniel estava com a nossa filha nas costas, além de algumas coisas pessoais. Fui atrás dele. Não tinha ninguém perto. Não tinha guia, nenhum coiote. Não sabia que ali era região de coiote. Fomos atravessando e, quando faltavam três ou quatro passos para gente chegar até os Estados Unidos, o nível do rio aumentou muito. Depois veio a fatalidade, foi horrível”, afirma ressentida.
Área proibida
A região onde a família cruzou a fronteira é conhecida pela travessia ilegal de imigrantes. O número de brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul dos EUA bateu recorde histórico no ano fiscal de 2021 (que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021). Ao todo, foram 56.881 detidos, um aumento de 700% em relação ao mesmo período de 2020.
Os dados foram divulgados no dia 22 de outubro de 2021 pelo órgão americano de “Alfândega e Proteção de Fronteiras”. Thais diz que gostaria que o depoimento dela servisse de exemplo para que outros brasileiros não tentem entrar nos EUA de maneira ilegal.