Segundo a investigação liderada pelo FBI, Flávio Cândido da Silva, 36, e mais 18 brasileiros roubaram dados de vítimas e falsificaram documentos para criar identidades falsas e forjar contas em plataformas como Uber, Lyft, DoorDash e outros dois serviços de entrega não revelados.
De acordo com documentos reunidos pelo Departamento de Justiça dos EUA, os brasileiros usavam o WhatsApp para combinar preços que eram cobrados aos motoristas que usavam as contas falsas. O grupo foi criado em junho de 2020 por Priscila Barbosa, uma das brasileiras suspeitas de integrar o esquema e que residia em Massachusetts.
A quadrilha opera, contudo, desde janeiro de 2020, como apontam as autoridades. Quando a pandemia chegou, os brasileiros se adaptaram, e deixaram de exclusivamente falsificar identidades para Uber e Lyft para incluírem apps de delivery no esquema. O motivo é o impacto negativo que o surto do coronavírus teve no setor de transporte por aplicativo.
A “Máfia” de brasileiros fraudou pelo menos 2 mil identidades, segundo a investigação. Os criminosos pediam para tirar fotos de documentos das vítimas durante a entrega de bebidas, para “checar” a idade do cliente. Em outros casos, os motoristas que tinham as identidades falsas colidiam de propósito com o carro das vítimas, de modo a obter fotos da carteira de motorista e número de segurança social da pessoa.
A partir desses dados, os golpistas forjavam novas carteiras de motorista para pessoas que não seriam aceitas pelos aplicativos, ou que simplesmente não atendiam aos requerimentos para trabalhar formalmente nos EUA. Para que o documento parecesse mais realista, as imagens das vítimas eram editadas no Photoshop, o que driblava a checagem visual que Uber e Lyft usam para reconhecer o dono da conta. Outra fonte dos dados foi a dark web.
O dinheiro chegava direto na conta bancária dos golpistas a partir do sistema de comissão das plataformas de transporte e delivery. Priscila Barbosa chegou a enviar uma imagem ao grupo “Máfia” com o valor obtido a partir do golpe: US$ 194.800 através de 487 contas falsificadas. O montante era depositado pelas próprias empresas em sua conta do Bank of America.trato bancário da brasileira que fazia parte de um esquema de fraude de contas da Uber.
Para maximizar o lucro ilícito e enganar o sistema de taxas dos aplicativos de delivery, os brasileiros usavam um spoofing de GPS, para fazer com que a entrega parecesse próxima demais, aumentando a taxa do pedido. No caso de Uber e Lyft, a tática era feita para aumentar o trajeto de uma viagem e, junto, o custo do serviço.
Em maio deste ano, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou todos os 19 brasileiros acusados por conspirarem a favor da falsificação de identidades. Cândido da Silva confessou o crime; ele também revelou o lucro obtido a partir do esquema, entre junho de 2019 e dezembro de 2020: cerca de US$ 200 mil.
O FBI foi acionado porque o grupo não atuava apenas em Massachusetts, mas tinha membros do outro lado do país, na Califórnia, e ainda na Flórida. Três suspeitos continuam foragidos, segundo o Departamento de Justiça.
O crime de conspiração para cometer fraude pode levar os brasileiros a cumprirem 20 anos de prisão, três anos de liberdade sob custódia e ao pagamento de uma multa que pode chegar a US$ 500 mil, a depender do prejuízo ou lucro oriundo do esquema criminoso. O roubo de identidade é classificado como um agravante que leva a dois anos de reclusão, independentemente da sentença. Cândido da Silva será julgado pela Corte Federal do Distrito de Massachusetts em abril de 2022.
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