
Em um espaço tranquilo de Sussex, uma ideia inspiradora e inovadora está florescendo: o Banco de Amizade. Com um banco de madeira simples e a calorosa presença de uma “avó” disposta a ouvir, essa iniciativa pode ser uma das soluções mais afetuosas para os desafios da saúde mental em todo o mundo.
originado no Zimbábue em 2006, o projeto foi idealizado pelo professor Dixon Chibanda, que percebeu que as soluções para a crise global da saúde mental não se limitam a diagnósticos. Em vez disso, ele encarou a compaixão e a sabedoria das avós como uma poderosa resposta.
Chibanda afirmou que, embora muitos não consigam acessar profissionais de saúde mental, a maioria das pessoas pode contar com um recurso muitas vezes negligenciado: o cuidado e a empatia que avós generosas podem proporcionar. Para ele, essas figuras se tornam verdadeiras heroínas em momentos de crise.

Atualmente, sob a liderança da Dra. Nina Lockwood, da Brighton e Sussex Medical School, o Banco de Amizade encontra um novo lar no Reino Unido, com uma adaptação específica para o clima britânico.
“Para se adequar ao clima britânico”, explicou a dra. Lockwood, “os bancos serão instalados em locais internos como bibliotecas e centros comunitários, ao invés de espaços ao ar livre, como no Zimbábue.”
Esses não são bancos comuns. Eles oferecem um ambiente seguro onde indivíduos se sentem ansiosos, deprimidos ou solitários podem sentar e conversar, tudo isso sem juízos, sem pressa ou custos envolvidos. É um espaço para desabafar. Os conselheiros leigos, carinhosamente chamados de “avós”, passam por um treinamento de apenas duas semanas, mas o impacto de suas interações é profundo.
Um estudo publicado pela Associação Médica Americana mostrou que pessoas que interagiram com um “avô” no Banco de Amizade experimentaram uma redução de 80% na depressão e nos pensamentos suicidas, além de uma melhoria de 60% na qualidade de vida. Após seis meses, muitos ainda estavam livres de sintomas.
Mebrak Ghebreweldi, cofundadora da Diversity Resource International e uma das primeiras “avós” treinadas em Sussex, ressaltou: “Quando alguém nos busca com estresse, temos todo o tempo do mundo para ouvir suas histórias e entender suas lutas.”

“Médicos geralmente não têm tempo para essas conversas longas”,acrescentou Mebrak. “Na maioria das vezes, eles apenas prescrevem medicamentos para aliviar a dor, mas isso pode desmotivar o paciente, agravando a situação.”
A paciência que caracteriza o Banco de Amizade é uma das chaves do seu êxito. As sessões não são apressadas, com os participantes se encontrando semanalmente por seis a oito semanas, discutindo suas dificuldades e explorando soluções.
“É fascinante ver um modelo africano sendo adaptado no Ocidente”,comentou a Dra. Lockwood. “Precisamos urgentemente buscar formas mais flexíveis e alternativas de atuar.”
O momento para essa abordagem não poderia ser mais oportuno. No Reino Unido,aproximadamente um em cada seis adultos sofreu de depressão moderada a grave em 2022. O estigma associado e os longos períodos de espera, que podem ultrapassar 18 semanas em algumas áreas, muitas vezes impedem as pessoas de procurarem ajuda.
Desde sua fundação, o Banco de Amizade já alcançou mais de 500 mil pessoas em cidades como Nova York, Washington, Doha e Amã. Com apoio da Organização Mundial da Saúde, ele demonstra que a cura nem sempre se apresenta na forma de medicamentos ou diagnósticos. Às vezes,a verdadeira cura reside em um simples banco de madeira,em um ambiente calmo,onde alguém está disposto a ouvir.
Como Chibanda nos lembra, estamos diante de uma “epidemia de saúde mental” global, marcada pelo aumento da depressão, ansiedade e solidão. Em um mundo que frequentemente parece apressado demais para se importar, o Banco de Amizade oferece algo notavelmente radical: tempo, empatia e conexão humana.
E, quem sabe, um pouco de chá.