AFP – Ser negro e latino nos Estados Unidos pode representar um duplo obstáculo para centenas de milhares de migrantes em um país cuja história é marcada pela segregação e pelo racismo, mas alguns conseguiram superá-lo apostando na autoaceitação.
Um deles é o congressista americano Adriano Espaillat, de origem dominicana. Ele é membro do Caucus Hispânico do Congresso (CHC) e, embora por enquanto não tenha sido admitido, quer integrar o Caucus Negro do Congresso.
“Acho que há uma consciência crescente sobre quem somos e do papel que os países da América Latina e do Caribe desempenham no movimento de pessoas negras nos Estados Unidos”, declarou em uma palestra virtual, organizada pela plataforma de notícias Axios, quando os Estados Unidos comemoram o Mês da História Negra.
Os Estados Unidos têm sido sacudidos por protestos contra o racismo, que se cristalizaram em um movimento internacional em 2020 sob o lema Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), a partir da morte de George Floyd, um afro-americano negro asfixiado pelo policial branco que o prendeu.
Cerca de 419.000 imigrantes se identificaram como negros e latinos no censo (10% de todos os imigrantes negros). Os afro-latinos, nascidos no exterior, imigraram principalmente de República Dominicana (42%), México (12%), Cuba (10%), Panamá (7%) e Honduras (6%).
A migração caribenha para os Estados Unidos tem uma longa história e estes imigrantes tendem a ter redes familiares e de diáspora maiores e mais estabelecidas do que os de origens diferentes, e também é mais provável que se tornem cidadãos naturalizados e dominem o inglês, publicou neste mês o Instituto de Política Migratória (MPI).
“A raça e a etnia são duas coisas totalmente separadas, podemos ser de qualquer etnia e ser mulher ou homem negro”, explicou Espaillat.
“Para mim, não foi tão complicado. Aceitei minha raça e minha etnia. E tento desfrutar de ambos. Penso que tenho o melhor dos dois mundos”, acrescentou.
Nos Estados Unidos, os imigrantes negros são racial e etnicamente diversos e vêm de dezenas de países, sobretudo do Caribe e da África subsaariana. Seus principais países de origem são Jamaica (17%), Haiti (16%), Nigéria (8%) e Etiópia (6%).
Segundo o MPI, um dos aspectos mais importantes da vida dos imigrantes é onde se estabelecem também dentro de seus países de destino, e é especialmente o caso dos 4,3 milhões de imigrantes negros do país.
Noventa e cinco por cento deles residem em regiões metropolitanas e “lutam tanto com sua condição de nascidos no exterior quanto com os legados da segregação e do racismo que historicamente têm marginalizado as comunidades negras” nos Estados Unidos, destacou.
Foi o que enfrentou de alguma forma na infância a atriz da Vila Sésamo Sonia Manzano, criadora de outro programa infantil, Alma’s Way. No mesmo encontro virtual, ela lembrou ter crescido em um ambiente em que todos tentavam negar a cor da sua pele e preferiam a tonalidade branca. “Saia do sol que a sua pele vai escurecer”, dizia sua mãe, como se isso fosse um problema.
Ela precisou superar as próprias inseguranças. “Lembro de estar no programa e de me perguntar como devia me pentear. Devia usar rolos para que ficasse suave ou deixá-lo natural como está agora?”. Não é que ninguém a censurasse – diz – era algo que fazia por iniciativa própria.
Por fim, decidiu ser ela mesma e se mostrar ao mundo sem artifícios. A julgar por sua trajetória, parece ter funcionado.
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