O Brasil teve tantos desgostos, pancadas e violência nos últimos tempos, que mexeram com o nosso povo e fizeram muita gente perder a sensibilidade. Aí Pantanal ressurge mais de 30 anos depois na TV falando de amor, de simplicidade, de gente raiz, de belezas da natureza, de meio ambiente, e de mistérios/lendas sobrenaturais.
E esse resgate da humanidade, da ingenuidade e da pureza humana, com um cenário exuberante de fundo, funcionaram de novo. Funcionaram a ponto de a trama estar batendo recordes no Ibope, levantando a audiência dos programas que vêm antes e depois da novela e levando milhões de reais em patrocínios para a emissora da família Marinho, que vinha mal das pernas. Sim, Pantanal deu certo novamente!
No ar desde 28 de março, a novela já bate mais de 30 pontos de média no Ibope na grande São Paulo. O capítulo, que terminou com o primeiro encontro entre Juma (Alanis Guillen) e Jove (Jesuita Barbosa), registrou 30,2 de média, bem mais do que a antecessora Um Lugar ao Sol, que ficava na casa dos 25 pontos.
Novela rejeitada pela TV Globo
E o curioso é que a Globo sofreu maus bocados por causa da novela Pantanal, há 30 anos.
Primeiro, a emissora rejeitou a trama de Benedito Rui Barbosa nos anos 1980. Aí o autor levou Pantanal para a extinta TV Manchete, que apostou na produção e teve o maior sucesso da sua história.
Em 1990, quando foi ao ar pela primeira vez, Pantanal bateu várias vezes a Globo no Ibope. Incomodou a família Marinho e também o SBT de Silvio Santos, que foram empurrados para segundo e terceiro lugares na audiência da época e não conseguiam reverter os números provocados pela magia de Juma Marruá, a mulher que vira onça, vivida na época pela linda Cristiana Oliveira.
Comparações entre o Pantanal de 1990 e o de 2022
A novela reescrita agora pelo neto de Benedito Rui Barbosa, Bruno Luperi, atualizou a trama para 2022 sem mexer na doçura da história, nem no ritmo lento – que tranquiliza e faz viajar.
Ele também manteve a justiça da natureza, não a do homem: “A gente não é dono de nada. Só do nosso destino”, diz o Velho do Rio, personagem vivido brilhantemente por Osmar Prado na nova versão – na Manchete Cláudio Marzo fazia o papel.
Aliás, Osmar Prado foi resgatado. Há muito tempo ele não fazia um papel à sua altura na Globo e tem feito a gente se arrepiar com as lições de vida do Velho do Rio e nas cenas em que vira cobra sucuri.
Comparações
Quem assistiu a primeira versão, que estreou na TV Manchete em 27 de março de 1990, fatalmente vai fazer comparações entre os atores, a qualidade técnica e a trilha sonora, mas é preciso reforçar que são duas grandezas distintas, de tempos diferentes.
A Juma Marruá de Cristiana Oliveira foi gigante para a época, da mesma forma que a Juma de Alanis Guillen também está encantando o Brasil em 2022 com sua doçura, sua valentia, sua beleza e seu amor puro por Jove, vivido por Jesuíta Barbosa.
Aliás, a química entre os dois é impressionante – dizem até que eles estão namorando na vida real depois daquele banho de rio da semana passada … mas isso é outra história.
Alanis tem apenas 23 anos e esta é sua segunda novela na TV. A jovem que conquistou o Brasil é de Santo André, no ABC Paulista.
Já Jesuita tem 29 anos, nasceu Salgueiro, Pernambuco, já fez vários filmes, série/novelas, entre elas Ligações Perigosas (2016), Justiça (2016) e Nada Será como Antes (2016). Foi o oprimido Ramirinho de Onde Nascem os Fortes (2018), que se apresentava à noite como a Shakira do Sertão, e também o vilão Jerônimo na novela Verão 90 (2019).
Amizade das “Jumas”
Alanis contou que fez laboratório com Cristiana Oliveira antes de entrar na personagem Juma. As duas conversaram bastante assim que Alanis foi confirmada para o papel, no ano passado e Cristiana deu todos os toques para a sucessora.
A amizade entre as duas ficou clara na semana passada, quando participaram do Domingão do Huck, como juradas do quadro Dança dos Famosos.
Cristiana disse que elas têm o mesmo jeito de olhar e Alanis agradeceu pelo apoio da Juma veterana.
E a nova Juma tem apaixonado a todos! Que menina linda!
Atores estão dando um banho de interpretação
O grande destaque da trama da Globo fica para Marcos Palmeira, que viveu Tadeu no Pantanal da Manchete e hoje vive o pai dele, o rei do gado José Leôncio.
Marcos Palmeira tem se superado como ator nas cenas de amor, de drama e de comédia que envolvem o personagem rico, durão, preconceituoso e bronco.
Dira Paes no papel de Filó – a amante/empregada/mãe do filho de José Leôncio – é uma delícia de assistir.
Mesmo sem instrução e retirada de uma currutela (casa de prostitutas) ela é uma mulher à frente do seu tempo, sem preconceitos e que é puro amor e ensinamentos dessa vida. Dira tem uma simplicidade e uma proximidade com a personagem que parece que a Filó foi escrita para ela.
Outro que chama muito a atenção na novela é o ator José Loreto, que vive Tadeu, filho de José Leôncio e Filó. Como ele caiu bem nesse papel de jovem peão sofrido!
Tadeu sofre por não levar o sobrenome do pai, que nunca se casou com a mãe dele, Filó. E sofre também porque o amor da vida dele, a Guta, vivida por Julia Dalavia, é apaixonada por Jove, o meio irmão de Tadeu.
Ele virou um verdadeiro peão triste, apaixonado, do bem, que está pronto para assumir os negócios do pai, mas não tem o devido reconhecimento.
Mais destaques
A novela tem vários personagens carismáticos. É impagável a Maria Bruaca, vivida por Isabel Teixeira (fez a médica Jane em Amor de Mãe). Ela é esposa de Tenório (Murilo Benício) e mãe de Guta (Julia Dalavia). Repare no olhar da Maria Bruaca, que incrível!
É uma mulher submissa, dedicada, engraçada e humilhada pelo marido que a chama de bruaca. Mas essa mulher dedicada, recata e do lar vai mudar totalmente quando descobrir que o marido tem outra família.
A reviravolta dela na trama fará crescer também o personagem de Alcides, vivido por Juliano Cazarré, que até agora está apagadinho na paixão não correspondida pela patroa dele, a Guta. Aguarde porque a relação entre Maria Bruaca e Alcides promete vingança e cenas quentes. Cá entre nós, ela merece ser feliz.
Almir Sater e o filho Gabriel Sater
Também deve crescer na trama a partir desta semana o personagem Xeréu Trindade, vivido por Gabriel Sater. Ele é filho do também cantor, compositor e violeiro Almir Sater (que faz o piloto da chalana nessa versão de Pantanal). E Gabriel vai viver o papel que o pai interpretou no Pantanal da Manchete. Bem legal isso.
Trindade é um violeiro misterioso, que surgiu pedindo abrigo na fazenda de Zé Leôncio. Ele tem pacto com o diabo. A viola dele é “enfeitiçada pelo cramunhão”. Trindade faz premonições e profetiza com tamanha propriedade que deixa todos cismados e com medo dele.
Saudades do elenco da primeira fase
Renato Góes mostrou um carisma tão grande e viveu tão intensamente o personagem José Leôncio da primeira fase da novela, que foi difícil acreditar que Marcos Palmeira assumiria o papel com tamanha desenvoltura e também conquistaria o público. E para sorte de todos isso aconteceu.
Juliana Paes como Maria Marruá também viveu momentos inesquecíveis, na perda dos filhos assassinados e virando onça para proteger a filha e a tapera.
E o que dizer de Irandir Santos como o velho Joventino, o pai de José Leôncio na primeira fase? Ele deixou cenas antológicas na trama. Foi sensacional.
“Meu Joventino foi criado sabendo que Osmar [Prado] defenderia o Velho do Rio, esse mítico guardião da natureza”, contou Irandir, que teve a atuação muito elogiada nos primeiros capítulos da trama da Globo.
Bruna Linzmeyer, a patricinha mimada Madeleine, mãe de Jove e ex-mulher de Zé Leôncio brilhou com categoria, porém não foi seguida à altura pela sucessora dela na segunda fase da trama, Karine Teles – que cá entre nós é bem chatinha.
A trilha sonora
O Pantanal da Globo, com imagens em 4K (alta definição) vai além da beleza e qualidade técnica das imagens. A trilha sonora é uma viagem na moda de viola, na música de raiz, na canção brasileira que fala do amor.
Começa pelo tema de abertura da novela – de autoria de Marcus Viana – cantado por Maria Bethânia com arranjo e viola de Almir Sater.
“É a canção de abertura de uma novela inesquecível e que terá uma releitura deslumbrante, de uma música muito inspirada do fundo do coração do Brasil”, disse Maria Bethânia.
Em comparação com a versão da Manchete, a nova trilha de Pantanal é mais intimista do que a gravada pelo Sagrado Coração da Terra, que tinha orquestra, vozes, efeitos e gritava as belezas do Pantanal. Mas cada uma tem a sua beleza.
A novela também traz Chico Chico, filho de Cássia Eller estreando em trilha sonora de novelas com a canção Ribanceira. Esse menino tem um carisma, a voz rouca da mãe e é um querido, como ela.
É linda também a versão de Gabriel Sater cantando Amor de Índio, de Beto Guedes (Sim, todo amor é sagrado). Gabriel Sater fez a própria releitura e deu o ritmo de viola para a canção imortalizada por Milton Nascimento. Ficou sensacional. É daquelas músicas que a gente ouve e põe pra repetir várias vezes.
Sim, todo amor é sagrado… e é prazeroso mergulhar nas histórias de amor do Pantanal. Dá vontade de assistir todo dia para alimentar um pouco o nosso lado bom, sabe como é?
Quem diria que mais de 30 anos depois a história da mulher que vira onça iria conquistar de novo o coração do brasileiro?
E a Juma da Alanis é um presente para a teledramaturgia do Brasil.
É por tudo isso que Pantanal voltou a encantar o Brasil agora em 2022… e promete novas emoções nos próximos capítulos!
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