O tratamento, que combina o coquetel inicial com outros três medicamentos, visa eliminar células onde o HIV se oculta. Essas substâncias têm a função de “despertar” o vírus adormecido para que o coquetel possa atacá-lo diretamente, algo que os tratamentos tradicionais não realizam. Após três anos, os testes mostraram que o HIV havia desaparecido do organismo do paciente.
“Eu não conseguia acreditar que estava curado. Pedi para fazer o exame novamente e, quando os resultados chegaram, as enfermeiras na sala começaram a chorar. O vírus não estava mais presente no meu sangue”, relatou o “Paciente de São Paulo” em uma entrevista para um programa de televisão.
A pesquisa da Unifesp se destaca como a primeira a apresentar resultados positivos utilizando apenas medicações. Coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, o estudo futuramente pode ser um divisor de águas no combate ao HIV.
“Implementamos uma terapia celular semelhante à vacinação.Usamos o próprio vírus do paciente, o modificamos em laboratório e o reinfectamos. Dessa forma, o corpo aprende a lidar com o vírus e a destruir as células que o abrigam”, esclareceu.Essa abordagem terapêutica fortalece o sistema imunológico, permitindo que o HIV permaneça sob controle por períodos prolongados, mesmo sem tratamentos contínuos. O paciente, por exemplo, ficou sem anticorpos detectáveis durante um ano e meio, como se nunca tivesse contraído o vírus. Outros dois participantes também conseguiram controlar o HIV, embora por menos tempo.
O resultado dessa pesquisa, realizada por uma equipe de cientistas brasileiros, foi publicado em agosto em uma revista científica respeitada, abrindo possibilidades para novos tratamentos mais eficazes. Atualmente, o Brasil conta com mais de 800 mil pessoas vivendo com o HIV, de acordo com o Ministério da Saúde, que oferece tratamento gratuito pelo SUS.
A Definição de “Cura Funcional”
Embora os avanços sejam significativos, os especialistas preferem referir-se a isso como “remissão” ou “cura funcional” em vez de “cura”, já que o HIV ainda pode permanecer em alguns lugares no corpo.
“O objetivo é manter o paciente com uma carga viral indetectável, o que significa que a doença não avança e ele não é capaz de transmitir o vírus, mesmo sem medicação”, afirmou Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O doutor Ricardo mencionou que o estudo está em andamento. “Estamos ajustando a estratégia, combinando intervenções e alterando dosagens para verificar se podemos obter resultados ainda mais promissores com uma maior quantidade de pessoas.”
Medicamentos de Prevenção em Farmácias
Anualmente, entre 40 mil a 50 mil novas infecções por HIV são registradas no Brasil, resultando em quase 10 mil mortes devido à AIDS.
“Temos que ser pacientes. O progresso da ciência é constante, e as pesquisas estão cada vez mais avançadas”, acrescentou Alexandre Naime Barbosa.
Uma nova medicação injetável, capaz de prevenir infecções de forma mais eficiente do que os comprimidos, já está disponível nas farmácias brasileiras.
“Essas injeções, administradas a cada dois meses, demonstram eficácia superior em comparação aos comprimidos orais, variando de 66% a 89%, dependendo da população analisada”, declarou Alexandre Naime Barbosa.
Embora a medicação oral já esteja acessível pelo SUS, a injeção ainda não foi incorporada ao sistema público devido ao seu alto custo, mas sua inclusão está sendo avaliada pelo Ministério da Saúde.

O tratamento inovador combina o coquetel convencional com outros três medicamentos que atacam e eliminam células onde o HIV se esconde. – Foto: divulgação/TJSP