Por Ana Ley, The New York Times — Dentro de uma estação de metrô na parte baixa de Manhattan, um grupo de policiais seguia lentamente um homem desgrenhado com um moletom cinza sujo que gaguejava e batia os braços descontroladamente.
“Por favor, me deixem em paz”, gritava o homem, batendo no peito com a palma da mão aberta e depois, exasperado, sentando-se em uma escada. “O que eu fiz de errado?”
A barba estava cheia de crostas de muco. Uma calça manchada escorregava em sua estrutura esguia.
“Vamos”, disse a policial Heather Cicinnati, enquanto o homem cambaleava para frente, desorientado e agitado. “Temos que sair da estação”.
Os policiais faziam parte de uma equipe liderada por um médico cujo trabalho é retirar — à força, se necessário — pessoas com transtornos mentais, que geralmente são moradores de rua, do sistema de transporte da cidade de Nova York. Naquela manhã de março, a equipe algemou e arrastou o homem para fora da estação de metrô. Em seguida, colocaram um capuz branco sobre sua cabeça.
As equipes de intervenção fazem parte de um amplo esforço para tornar o metrô mais seguro após uma série de crimes chocantes. Parte do plano envolve encontrar soluções para um dos problemas mais frustrantes do sistema de transporte: pessoas com problemas de saúde mental e sem-teto vivendo nos trens e nas estações.
As autoridades da Metropolitan Transportation Authority (M.T.A), que opera o metrô, disseram que estavam fazendo o que era necessário para ajudar as pessoas com transtornos, mantendo-as longe dos passageiros. Em pesquisas, os passageiros disseram que usariam o transporte coletivo com mais frequência se vissem menos pessoas com comportamento irregular e mais policiais.
Mas alguns defensores de pessoas com transtornos mentais acreditam que as equipes usam táticas pesadas que fazem mais mal do que bem. Ruth Lowenkron, diretora do programa de justiça para deficientes dos Advogados de Nova York para o Interesse Público, expressou sua consternação com o uso do capuz pela equipe, classificando-o como “uma ferramenta anacrônica”.
“Não é assim que queremos ser como sociedade”, disse Lowenkron. “Não há motivo para fazer isso. E isso não vai deixar as pessoas mais seguras”.
Em defesa do método, as autoridades da M.T.A. disseram que os policiais da agência às vezes precisam restringir pessoas que estão sofrendo de graves problemas psiquiátricos para fornecer-lhes cuidados médicos essenciais.
O programa
Lançado no último outono (hemisfério norte), o programa, chamado Subway Co-Response Outreach, ou SCOUT, retirou pelo menos 113 pessoas do metrô. A maioria vai voluntariamente para abrigos ou para hospitais para tratamento médico, de acordo com as autoridades de transporte.
Entre as pessoas retiradas do metrô, 16 foram enviadas ao hospital contra sua vontade para avaliações psiquiátricas. A maioria dos detidos de maneira compulsória foi admitida como paciente.
“Este é o governador, a cidade e o M.T.A. se unindo para fazer algo a respeito”, disse Tim Minton, porta-voz da agência, quando os policiais detiveram o homem em março. “Para tentar ajudar as pessoas que precisam de tratamento, que precisam de assistência, e não simplesmente fugir disso”.
Não há dados que sugiram que pessoas com transtornos mentais tenham mais probabilidade do que outras de cometer crimes violentos. Mas alguns nova-iorquinos ficaram nervosos com uma série de ataques de alto nível realizados por pessoas em situação de rua com problemas mentais nos últimos meses. As taxas de criminalidade também aumentaram no sistema de transporte no início deste ano, antes de diminuir.
O programa SCOUT está crescendo, em março, a governadora Kathy Hochul disse que o estado forneceria US$ 20 milhões para expandi-lo de duas equipes para até uma dúzia até o final de 2025. As autoridades municipais e estaduais também inundaram o sistema de trânsito com milhares de policiais e câmeras de vigilância. No mesmo mês, Hochul enviou a Guarda Nacional para o sistema, formando uma força de aproximadamente 3 mil policiais dedicados a patrulhar o transporte coletivo. No final de 2022, a governadora disse ao M.T.A. para colocar câmeras em todos os vagões de trem, e hoje há cerca de 16 mil em todo o sistema.
Todos os dias da semana, as duas equipes SCOUT, cada uma composta por um profissional da área médica e de dois a três policiais da M.T.A., percorrem algumas das estações mais movimentadas do metrô em busca de pessoas que pareçam estar abrigadas nelas.
‘Mais trauma’
Pouco antes do encontro em março na estação da Fulton Street, em Lower Manhattan, o médico da equipe, Ameed Ademolu, de 41 anos, já havia expulsado várias pessoas do metrô naquela manhã sem nenhuma resistência.
Ademolu carregava uma prancheta e usava um colete laranja e uma máscara facial quando se aproximou do homem de moletom cinza. Os policiais, parados a alguns metros de distância enquanto aguardavam as ordens do médico, observaram para o caso de o homem ou qualquer espectador atacar. Ele rapidamente fez a chamada: os agentes precisariam levar o homem para um hospital contra sua vontade. Ele resistiu por cerca de 20 minutos, reclamando e mexendo em seus bolsos.
As leis estaduais permitem que tanto a polícia quanto os profissionais da área médica levem as pessoas à força para um hospital quando o comportamento delas representa uma ameaça de “danos graves” a si mesmas ou a outras pessoas.
Uma vez do lado de fora, os policiais pressionaram o homem algemado contra uma parede e colocaram o capuz sobre sua cabeça porque, segundo eles, ele estava espalhando saliva nos policiais enquanto gritava. Em seguida, os agentes o amarraram em uma maca para levá-lo ao Hospital Bellevue.
Nancy Juarez, de 25 anos, do Brooklyn, estava passando pelo local com uma amiga quando parou e pediu aos policiais que deixassem o homem ir embora.
“Isso é prejudicial”, disse a jovem, contando trabalhar na maior parte do tempo remotamente como analista de políticas no Center on Juvenile and Criminal Justice, ONG com sede em São Francisco que se opõe ao encarceramento. “Isso causa mais trauma”.
As autoridades responderam que algumas pessoas removidas das estações se comportaram de forma que colocaram a si mesmas e a outras pessoas em risco. Uma delas era conhecida por acender fogueiras dentro de uma estação. Outra teria empurrado um passageiro em direção aos trilhos, e uma terceira disse que acreditava estar no Iraque e que a equipe de apoio era um grupo de soldados hostis.
O sargento Steven Simmons, de 26 anos, que faz parte de uma equipe SCOUT, disse que ficou frustrado com as reações de alguns observadores que pareciam não entender a intenção da equipe. Ele disse acreditar que o trabalho que estava fazendo era ajudar pessoas que, de outra forma, definhariam nas ruas.
“Só temos que saber em nossos corações que estamos dando a ele a ajuda de que precisa. Às vezes, infelizmente, não se pode agradar a todos”, afirmou.
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