As investigações ocorrerão na Universidade Médica de Nara, seguindo um primeiro estudo realizado em 2022 que demonstrou a segurança das “vesículas de hemoglobina”. Estes microcontêineres, com apenas 250 nanômetros, simularam a função dos glóbulos vermelhos naturais ao transportar oxigênio e apresentaram resultados encorajadores em testes com coelhos, sem causar efeitos colaterais significativos.
Uma das inovações mais impactantes dessa pesquisa é a compatibilidade universal do sangue artificial. Isso significa que em situações de emergência não será mais necessário realizar testes de tipagem sanguínea, uma prática que pode consumir tempo precioso. Além disso, o sangue sintético tem uma vantagem notável: pode ser armazenado em temperatura ambiente por mais de um ano, ao contrário do sangue humano, que precisa ser refrigerado e possui um tempo de validade limitado.
Esse sangue artificial tem um enorme potencial para regiões remotas e de difícil acesso, incluindo áreas em conflito e zonas afetadas por desastres naturais.Para avançar, os próximos estudos envolvem a administração de entre 100 e 400 mililitros do sangue artificial em voluntários para confirmar sua segurança antes de uma possível implementação em larga escala nos hospitais até 2030.
A pesquisa não só oferece esperança para o Japão, mas também para outros países que lutam para manter estoques de sangue adequados, tanto em nações desenvolvidas quanto em em países em desenvolvimento, onde a demanda muitas vezes supera a oferta. Diante do envelhecimento populacional e da baixa taxa de natalidade, o Japão busca soluções sustentáveis para os desafios futuros.
O sangue artificial utiliza hemoglobina extraída de doações de sangue que já expiraram, de modo que os pesquisadores podem “encapsular” essa proteína em microcápsulas. Essa técnica,que elimina a necessidade de compatibilidade sanguínea,representa uma quebra de barreiras nas transfusões.
além disso, outra abordagem em desenvolvimento utiliza hemoglobina encapsulada em proteínas conhecidas como albuminas. Estudos iniciais com essa técnica já mostraram eficácia em manter a pressão arterial e auxiliar em condições como hemorragias e derrames.
A escassez de sangue para transfusões é um problema que transcende fronteiras. Em países desenvolvidos, a maior parte das doações depende de voluntários, mas ainda assim há lacunas, especialmente para aqueles com tipos sanguíneos raros. Em nações em desenvolvimento, a situação é ainda mais crítica, com menos da metade da demanda atendida e a maioria dos produtos derivados do sangue, como imunoglobulinas e fatores de coagulação, necessitando ser importada.Um estudo da Organização Mundial da Saúde revelou que em 106 de 175 países, todos os produtos derivados do plasma sanguíneo são importados, impactando diretamente o tratamento de doenças graves. No Japão, o cenário é ainda mais complicado, pois o aumento do número de idosos e a diminuição dos jovens doadores tornam a conservação de estoques uma questão urgente. Assim, o sangue artificial tornou-se uma prioridade entre os pesquisadores japoneses.
O professor Hiromi Sakai, da Universidade Médica de Nara, está à frente dessa pesquisa crucial. Ele enfatiza que, se os testes forem exitosos, será possível criar estoques de sangue que eliminem a dependência de doações frequentes, possibilitando a salvação de milhões de vidas, especialmente em locais onde a escassez de sangue é uma realidade cotidiana.
Com o horizonte de 2030, o Japão visa tornar o sangue artificial amplamente utilizável nos hospitais. Se isso se concretizar, será uma revolução médica significativa, mostrando como a ciência pode oferecer soluções em meio a profundas carências.

O sangue artificial trouxe esperança para médicos do mundo inteiro. Hoje, a falta de bolsas para transfusão é um dos agravantes em hospitais. – foto: Canva