Detida por duas semanas no Colorado, brasileira de 19 anos relata discriminação por não falar inglês

Os últimos 15 dias foram os mais difíceis da minha vida. Eu estava com medo e me sentia sozinha", revela Caroline Dias Gonçalves, brasileira de 19 anos, que enfrentou uma detenção angustiante nos Estados Unidos. A jovem, cuja voz ecoa a luta de muitos imigrantes, fala pela primeira vez sobre sua prisão e a busca por um futuro melhor

“Os últimos dias foram os mais desafiadores da minha vida. Senti medo e solidão”, compartilhou Caroline Dias Gonçalves, uma brasileira de 19 anos que foi detida em 5 de junho pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE).

Em sua primeira declaração pública sobre os eventos, Caroline se manifestou através de uma nota divulgada pelo TheDream.US, uma organização sem fins lucrativos que oferece bolsas de estudos a jovens imigrantes, com a qual ela está associada enquanto cursa enfermagem na Universidade de utah. Após mais de 36 horas de espera, a jovem foi liberada sob fiança na sexta-feira (20), após a decisão da Justiça americana durante uma audiência na quarta-feira anterior.

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Caroline chegou aos EUA quando tinha apenas 7 anos, acompanhada por sua família, que entrou na nação com um visto turístico de seis meses, mas que acabou se prolongando. Após três anos, a família solicitou asilo e continua aguardando uma resposta- os motivos dessa solicitação ainda permanecem obscuros. Durante sua detenção no centro do ICE em Aurora,no Colorado,a jovem expressou insatisfação com a qualidade da alimentação. “A comida era péssima – o pão estava encharcado de água”, relatou.

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A estudante também observou que havia um tratamento desigual entre imigrantes que falavam inglês e aqueles que não falavam. “Assim que perceberam que eu conseguia me comunicar em inglês, notei uma diferença. De repente, fui tratada de forma mais favorável do que aqueles que não tinham esse domínio”, comentou Caroline. “Isso me partiu o coração. Ninguém merece esse tipo de tratamento, especialmente em um país que considero meu lar desde a infância.” A BBC News Brasil buscou a posição do ICE sobre as acusações de Caroline. Tricia McLaughlin, secretária adjunta de assuntos Públicos do departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS), respondeu por e-mail desmentindo as afirmações da jovem. O ICE é uma agência sob a jurisdição do DHS. “Qualquer alegação de que o tratamento dos indivíduos varia com base no idioma que falam é completamente infundada. Essas declarações visam demonizar os valorosos agentes do ICE. Esse tipo de retórica resultou em um aumento de mais de 500% nos ataques contra agentes da lei”, afirmou McLaughlin.

Caroline Dias Gonçalves faz declaração

“Os fatos são: Caroline Dias Gonçalves, uma imigrante irregular do Brasil, foi detida pelo ICE em 5 de junho de 2025. Seu visto expirou há mais de uma década.O presidente Trump e a secretária [Kristi] Noem [do DHS] estão comprometidos em assegurar que o programa de vistos não seja mal utilizado por estrangeiros buscando permanência nos EUA.” A funcionária também garantiu que o ICE passa por auditorias regulares e inspeções de entidades externas para confirmar que suas instalações atendem aos padrões nacionais de detenção. A BBC News Brasil encaminhou a resposta de mclaughlin ao advogado de Caroline, Jonathan M. Hyman, que comentou por e-mail: “A linguagem da secretária adjunta é puramente política e desprovida de substância.” Hyman também alertou que “ninguém apoia agressões a agentes da lei. Quanto às alegações sobre o aumento de ataques, encorajo a secretária e seu departamento a serem transparentes.” Ele acrescentou: “Estou ciente do crescimento do uso de câmeras corporais por agentes de segurança. Talvez os agentes do ICE devessem usar mais câmeras e menos máscaras”, referindo-se à usança de máscaras por agentes do ICE durante operações de apreensão de imigrantes.

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“Que outros não tenham que passar pelo que passei”

Na nota que divulgou, a estudante brasileira expressou agradecimentos a amigos e familiares que apoiaram sua liberação. Ela também ofereceu desculpas ao agente do ICE que a deteve. “Ele se desculpou e explicou que queria me liberar,mas que suas ‘mãos estavam atadas’. Ele sentia que estava agindo de forma errada”, contou Caroline. “Quero que você saiba – eu te perdoo. Acredito que as pessoas podem fazer escolhas melhores quando têm essa possibilidade.” Caroline ainda enfatizou a esperança de que outros não enfrentem a mesma situação pela qual passou. “Desejo que ninguém mais tenha que passar pelo que eu enfrentei. Contudo, sei que neste momento, mais de 1.300 pessoas estão vivendo o mesmo pesadelo naquela unidade de detenção em Aurora. Elas são como eu – pessoas que cresceram aqui,amam este país e apenas desejam uma oportunidade de pertencer”,refletiu a brasileira.

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“Imigrantes como eu – não pedimos nada além de uma chance justa de regularizar nossa situação, de nos sentirmos seguros e continuar construindo as vidas pelas quais batalhamos neste país que chamamos de lar.” A detenção de Caroline ocorre em um contexto de endurecimento das políticas de imigração nos EUA durante o segundo mandato de Donald Trump. aproximadamente 51 mil imigrantes sem documentação estavam sob custódia do ICE no início de junho, a maior cifra desde setembro de 2019.Inicialmente, as autoridades afirmavam que as operações do ICE focavam em criminosos e potenciais ameaças à segurança pública. No entanto, um número considerável de imigrantes sob detenção durante o governo Trump não possui antecedentes criminais, como no caso de Caroline. Após a detenção da jovem, amigos dela iniciaram uma campanha de arrecadação para ajudar a família com os custos legais. Agora que ela foi liberada, a campanha segue com o intuito de reunir recursos para a defesa contra um possível processo de deportação.

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