O torcedor ou jornalista que ainda se pergunta como a Seleção Brasileira conseguiu ser eliminada por “essa Croácia” precisa rever seus conceitos. Não somente pela vitória em cima de Marrocos e da conquista do terceiro lugar na Copa do Mundo, mas pelos feitos que a equipe de Zlatko Dalic, Modric, Livakovic e companhia conquistaram nos últimos anos. Inclusive, chega a ser leviano menosprezar a capacidade que o “Time Xadrez” tem de controlar o jogo e explorar os pontos fracos dos seus adversários. A Croácia chega a seu segundo “pódio” consecutivo e já deixou de ser uma “estranha no ninho” há bastante tempo. Principalmente nesses dois últimos ciclos.
Falando especificamente do jogo deste sábado (17), os dois treinadores mandaram suas equipes a campo com uma série de alterações por conta do desgaste físico. Zlatko Dalic apostou numa Croácia escalada em algo próximo de um 4-4-2 com Modric e Kovacic na proteção da zaga, Perisic e Stanisic nas laterais e Kramaric jogando como “segundo atacante” atrás de Livaja, Majer e Orsic. Os titulares Lovren, Juranovic, Borna Sosa e Brozovic foram preservados da decisão do terceiro lugar no Estádio Internacional Khalifa. Mas a pegada do time continuava a mesma.
Do outro lado, Walid Regragui manteve seu 4-1-4-1 básico no time de Marrocos, mas que lidar com as ausências de Mazraoui, Saïss e Nayef Aguerd. Além disso, Ounahi e Amallah sentiram o desgaste físico e começaram a partida como opções no banco de reservas. Attiat-Allah entrou na lateral-esquerda, Achraf Dari e El Yamiq formaram a dupla de zaga com Sabiri e El Khannouss jogando na frente de Amrabat. E quem esperava um jogo mais estudado no Estádio Internacional Khalifa se deparou duas equipes saindo para o ataque e se impor no campo adversário.
Antes dos dez mintuos de partida, a Croácia já havia balançado as redes do goleiro Bono com Gvardiol acertando bela cabeçada em jogada ensaiada após cobrança de falta da intermediária. Praticamente no lance seguinte, os “Leões do Atlas” conquistaram a igualdade com Achraf Dari aproveitando apagão da zaga croata após bola levantada na área. No entanto, a equipe comandada por Zlatko Dalic foi tomando conta do jogo aos poucos e se impondo no campo de ataque. Sabiri e El Khannous não conseguiam fechar as linhas de passe e nem evitar que Modric tivesse espaço para criar. Com isso, a Croácia foi se estabelecendo no campo de ataque marroquino até com certa facilidade.
Majer e Orsic buscavam sempre os espaços às costas do meio-campo adversário e levavam vantagem sobre El Khannouss e Sabiri nos duelos. Ao mesmo tempo, Perisic avançava o tempo todo pela esquerda e prendia Hakimi e Ziyech na defesa. E com Kramaric se movimentando bastante na frente, Livaja conseguia arrastar a zaga para abrir espaços. O goleiro Bono teve que trabalhar duas vezes em finalizações do ataque croata antes de Orsic acertar o ângulo num dos mais belos gols dessa Copa do Mundo até o momento. Difícil não notar que Marrocos sentia falta dos titulares.
Por outro lado, é muito difícil tirar o mérito da Croácia nessa e em outras partidas no Catar. Por mais que o elenco esteja quatro anos mais velho, a experiência de nomes como Modric, Kovacic e Kramaric se somam à juventude de Gvardiol, Stanisic e Majer. Fora isso, o “Time Xadrez” sempre esteve pronto para encarar qualquer adversário. Tirando a atuação mais abaixo da média contra a Argentina nas semifinais, os comandados de Zlatko Dalic pareciam estar à frente dos oponentes em vários lances. Fora a força mental para aguentar duas decisões por pênaltis.
Walid Regragui tentou dar mais força ofensiva para sua equipe com as entradas de Chair, Ounahi, Amallah e Zaroury, mas Marrocos acabou esbarrando nas boas defesas do goleiro Livakovic, na própria afobação nos momentos decisivos (um dos pontos fracos dos “Leões do Atlas” nessa Copa do Mundo) e na forte marcação da Croácia. Zlatko Dalic reforçou ainda mais o seus sistema defensivo com as substituições e deixou Modric jogando como uma espécie de “regista” num 4-1-4-1 bem compactado na frente da área e que tinha muita velocidade nos contra-ataques assim que a posse era retomada. Principalmente com Bruno Petkovic e Vlasic explorando as costas dos laterais marroquinos.
A conquista do terceiro lugar prova a qualidade da Croácia e a coloca sim entre as seleções do primeiro escalão. Não é todo dia que vemos uma equipe atingindo semifinais de Copa do Mundo duas vezes seguidas e causando problemas de toda ordem contra adversários mais badalados. E se formos analisar as campanhas de equipes que possuem mais “grife” vamos concluir que a equipe comandada por Zlatko Dalic já superou alguns “queridinhos” como Bélgica e Portugal e já bateu o número de “pódios” da Espanha. E o mesmo raciocínio vale para o valente Marrocos de Walid Regragui. Numa Copa em que a atenção esteve em cima das equipes da Europa, os “Leões do Atlas” fizeram história.
Certo é que a Croácia (com seus dois terceiros lugares em 1998 e 2022 e o vice-campeonato em 2018) já merece sair do grupo dos “estranhos no ninho” e adentrar o das equipes que merecem respeito por parte da imprensa especializada. Além disso, o veterano Modric escreveu seu nome na história do velho e rude esporte bretão mais uma vez com grandes atuações e a maestria de sempre. Este que escreve confessa que não será a mesma coisa vê-lo fora de campo no próximo Mundial.
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