O Cirurgião Geral dos Estados Unidos, Dr. Vivek Murthy, fez um apelo contundente ao Congresso no dia 17 de junho (2024*) para implementar alertas/rótulos de advertência em aplicativos de redes sociais, semelhantes aos exigidos para produtos como cigarros e álcool. Em um artigo de opinião publicado no New York Times, Murthy destacou a urgência de ações para mitigar os efeitos negativos das redes sociais na saúde mental dos jovens.
“A crise de saúde mental entre os jovens é uma emergência — e as redes sociais surgiram como um importante contribuinte,” afirmou Murthy. Ele citou diversos estudos, incluindo uma pesquisa de 2019 da Associação Médica Americana publicada no JAMA, que revelou que adolescentes que passam três horas por dia nas redes sociais dobram seu risco de depressão. De acordo com uma pesquisa da Gallup, os adolescentes passam, em média, quase cinco horas diárias em redes sociais.
Murthy ressaltou que a prevalência do uso de redes sociais entre crianças já ultrapassa 95%, tornando-se “praticamente universal”. No entanto, ele não tem autoridade para impor unilateralmente rótulos de advertência nos aplicativos; essa medida requer aprovação legislativa. “O motivo pelo qual estou propondo essa advertência é porque acho essencial que os pais saibam o que sabemos agora, que há danos significativos associados ao uso das redes sociais,” disse Murthy em entrevista à CNN dos EUA.
O cirurgião ainda comparou os riscos das redes sociais com os do álcool e do cigarro, destacando que o impacto na saúde mental e bem-estar das crianças é profundo e exige uma resposta urgente e coordenada.
A proposta de rótulos de advertência em produtos de tabaco, implementada pela primeira vez em 1965, levou a uma redução constante no consumo de cigarros nos Estados Unidos nas últimas décadas. Murthy espera que uma abordagem similar possa reduzir o uso de redes sociais por crianças e adolescentes.
Críticas ao Setor de Tecnologia
O Congresso tem criticado as empresas de redes sociais por seus impactos nas crianças, mas até agora tomou poucas medidas concretas. CEOs de grandes empresas de tecnologia, como Mark Zuckerberg da Meta, já foram interrogados no Capitólio e pediram desculpas publicamente por casos de bullying e assédio online que levaram a tragédias. No entanto, a regulamentação efetiva ainda é escassa.
Murthy argumenta que é urgente o Congresso agir para limitar o uso de redes sociais pelas crianças. “Até o momento em que tivermos evidências confiáveis de que as redes sociais são seguras e mudanças estiverem sendo feitas e continuarão a ser feitas… os pais merecem ser avisados. É aí que entra o rótulo,” afirmou Murthy.
Iniciativas Estaduais
Murthy vem alertando sobre os danos das redes sociais à saúde das crianças há anos. Em maio de 2023, ele emitiu uma recomendação afirmando que não há evidências suficientes para garantir a segurança das redes sociais para crianças e adolescentes, sugerindo que o uso dessas plataformas apresenta “um risco profundo de dano”.
Ele também sugeriu que os pais restrinjam o uso de redes sociais pelos filhos, argumentando que 13 anos é muito jovem para entrar nas redes sociais. No entanto, essas recomendações são apenas orientações e não exigem ações legislativas.
O cirurgião geral reconheceu que um rótulo de advertência seria apenas uma parte da solução. Ele sugeriu que as escolas se tornem ambientes livres de telefones para as crianças e que os pais estabeleçam limites claros para o uso de redes sociais, especialmente durante o jantar e outros eventos familiares.
Vários estados têm buscado legislar sobre o uso de redes sociais por crianças. Por exemplo, a Flórida proibiu menores de 14 anos de criarem suas próprias contas em redes sociais, e Nova York propôs legislações para restringir algoritmos de engajamento para crianças e proteger suas informações pessoais. O estado de Montana, inclusive, chegou a proibir o uso do TikTok, umas as redes sociais que mais cresce.
“Isso é muito mais fácil de falar do que de fazer, e é por isso que os pais devem trabalhar juntos com outras famílias para estabelecer regras compartilhadas, para que nenhum pai tenha que lutar sozinho ou se sentir culpado quando seus adolescentes disserem que são os únicos que têm que suportar limites,” escreveu Murthy.
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