O Barcelona vinha de quatro vitórias seguidas na temporada, com quatorze gols marcados e quatro sofridos. Esses números e a boa fase da equipe comandada por Xavi Hernández eram motivos suficientes para crer em mais um resultado positivo contra o Galatasaray, em jogo de ida das oitavas de final da Liga Europa da UEFA. Apenas a título de comparação, o escrete comandado por Domènec Torrent (AQUELE MESMO) vinha de duas vitórias, um empate e uma derrota nos últimos quatro jogos, com oito gols a favor e sete contra. Só que o ex-treinador do Flamengo entendeu que sua tarefa mais urgente era organizar o sistema defensivo e agiu de acordo. O empate sem gols no Camp Nou foi marcado pela grande atuação do goleiro Iñaki Peña e pelo caminhão de gols perdidos por um Barcelona que segue brincando com a sorte.
É interessante notar que o Barcelona tinha o controle do jogo, trocava passes sem muitas dificuldades no seu campo e conseguia fazer a bola chegar no trio ofensivo formado por Memphis Depay, Ferrán Torres e Adama Traoré. O grande problema estava no básico: colocar a bola dentro da casinha. Por mais que o Galatasaray encontrasse muitas dificuldades para fechar as linhas de passe do seu adversário, também faltava ao Barça um pouco mais de agressividade no ataque. Xavi apostou no seu 4-3-3 costumeiro com Frenkie de Jong na frente da zaga, Dest e Jordi Alba muito presentes no ataque e Nico González e Pedri distribuindo muito bem as jogadas a partir do meio-campo. Do outro lado, Domènec Torrent armou o Galatasaray num 4-2-3-1 de saída rápida pela esquerda com o excelente Aktürkoglu acelerando bastante.
Xavi Hernández manteve o 4-3-3 no Barcelona com Ferrán Torres, Depay e Traoré no ataque. Já Domènec Torrent reforçou o sistema defensivo e apostou num 4-2-3-1 bem organizado.
O camisa 9 Memphis Depay obrigou o goleiro Iñaki Peña a fazer duas grandes defesas no primeiro tempo. Uma em cobrança de falta e outra na sua jogada característica, saindo da esquerda, cortando para o meio e finalizando de direita. No entanto, por mais que o Barcelona se esforçasse, a impressão que ficava era a de que o Galatasaray conseguia se fechar na defesa sem muitos problemas a não ser as finalizações de média e longa distância do seu adversário. E por mais que Adama Traoré conseguisse levar vantagem sobre o lateral Van Aanholt, o volume de jogo apresentado pelo time de Xavi Hernández não era suficiente para furar o eficiente bloqueio defensivo do escrete comandado por Domènec Torrent. E nesse ponto, o escrete catalão jogou com a sorte mais uma vez. Exatamente como no jogo contra o Napoli.
Xavi Hernández fez três substituições logo depois do intervalo. Ferrán Torres, Ronald Araújo e Nico González deixaram o jogo para as entradas de Dembélé, Piqué e Busquets. Ainda no início da segunda etapa, Aubameyang entraria no lugar de Memphis Depay. Até esse momento, o treinador do Barcelona não desfez o 4-3-3 inicial e viu sua equipe seguir pressionando, mas sem muita efetividade. Além da ótima atuação do goleiro Iñaki Peña, o escrete catalão parecia mais nervoso do que nos primeiros 45 minutos e desperdiçava ótimas chances por conta de tomadas de decisões erradas em momentos decisivos. Com o passar do tempo, a confiança da equipe foi diminuindo.
Do outro lado, Domènec Torrent manteve seu 4-2-3-1 no Galatasaray e também trocou peças. Kilinc e Gomis entraram nos lugares de Ryan Babel e Mostafa Mohamed respectivamente com o claro objetivo de explorar o espaço às costas da zaga do Barcelona. O experiente atacante francês ainda conseguiu encaixar uma escapada e balançar as redes de Ter Stegen, mas acabou flagrado em posição de impedimento. Em suma, o que se via no Camp Nou nesse segundo tempo nada mais era do que a repetição daquilo que vimos no primeiro. O Galatasaray se fechava na defesa com duas linhas com quatro jogadores e o Barcelona tentava a todo custo (e sem muito sucesso) furar esse ferrolho montado por Dome.
O Barcelona ocupava o campo de ataque, fazia a variação do 4-3-3 para o 2-3-5 com os laterais jogando por dentro e os volantes encostando no trio ofensivo. No entanto, o time de Xavi não conseguiu furar a defesa do Galatasaray. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil
É verdade que Frenkie de Jong acertou a trave de Iñaki Peña e que o goleiro salvou o Galatasaray com pelo menos mais duas ótimas defesas. O domínio técnico e tático do Barcelona era claro para todos aqueles que acompanhavam a partida no Camp Nou ou pela TV. A questão, no entanto, é que o escrete comandado por Xavi Hernández foi sim muito infeliz nas conclusões a gol e nas tomadas de decisão. De acordo com os números do SofaScore (ver tweet abaixo), o Barcelona teve 68% de posse de bola (contra 32% do Galatasaray) e finalizou 15 vezes a gol, mas apenas quatro foram no alvo. Prova de que a equipe blaugrana poderia ter trabalhado um pouco mais a bola e tido um pouco mais de paciência para encontrar os pontos fracos da retranca imposta por Domènec Torrent. Faltou sim objetividade e calma aos jogadores.
🌍 | Barcelona 0:0 Galatasaray
The hosts had much more of the ball, but they couldn’t create more than a single big chance, as the visitors very much held their own at Camp Nou.
We’ll find out who goes through to the #UEL QF next week in Istanbul!#BarcaGalatasaray #BarcavGS pic.twitter.com/162EyNB0o8
— SofaScore (@SofaScoreINT) March 10, 2022
Certo é que o confronto segue completamente aberto nessas oitavas de final da Liga Europa da UEFA. Este que escreve entende muito bem o desejo de Xavi Hernández de focar no Campeonato Espanhol para retornar para a Champions League o mais rápido possível. Por isso que jogadores como Piqué, Busquets e Aubameyang começaram a partida no banco de reservas. Mesmo assim, o empate sem gols acabou frustrando todos aqueles que esperavam uma partida mais movimentada. Os números de Barcelona e Galatasaray nos últimos quatro jogos (e mencionados no primeiro parágrafo) indicavam essa tendência. Ainda mais com os conhecidos problemas defensivos das equipes de Domènec Torrent. Mesmo assim, o escrete turco foi muito bem. Destaque para a dupla de zaga formada pelo brasileiro Marcão e pelo dinamarquês Victor Nelsson.
Xavi Hernández ainda está naquele período de críticas mais amenas por conta do tempo à frente do Barcelona. Mas é preciso deixar bem claro que uma possível eliminação na Liga Europa pode ser catastrófica para o time catalão diante dos últimos acontecimentos nos bastidores do clube. Em termos financeiros e na confiança do elenco. Há como superar o Galatasaray sem muitos sustos, mas é preciso aproveitar melhor as chances criadas. E isso só pra começar.