Artigo: Anistia Internacional pede fechamento de Adelanto, centro de detenção da ICE na Califórnia

Por Paul O’Brien

Do lado de fora do Centro de Detenção Adelanto ICE no Condado de San Bernardino, a bandeira dos Estados Unidos tremula ao lado de uma bandeira do Grupo GEO. O Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) contratou a GEO para administrar esse centro. A GEO está obtendo lucros maciços com esses centros, financiados pelos contribuintes americanos, para impedir que esses imigrantes e requerentes de asilo se integrem às comunidades americanas, encontrem empregos e vivam vidas normais. Isso não faz sentido.

Esses centros de detenção privados são um testemunho tóxico de um sistema de imigração falido que depende de uma rede de mais de 200 centros de detenção que são economicamente perdulários e prejudiciais. Em vez de o governo dos Estados Unidos investir para tornar Adelanto uma economia segura e saudável para seus 38.000 habitantes, ele apoiou e alimentou uma economia extrativa que está devastando a terra, a água e o ar de San Bernardino. Imagine uma alternativa em que imigrantes e solicitantes de asilo possam lidar com seus casos de imigração em comunidades cercadas por amigos e familiares solidários e organizações sem fins lucrativos baseadas na comunidade, onde podem ajudar a nutrir comunidades prósperas.

Em 20 de março, sete demandantes, requerentes de asilo detidos em Adelanto , entraram com uma ação no Tribunal Distrital Federal de Riverside, alegando que o Grupo GEO não está apenas lucrando com o sistema de detenção, está, de fato, prejudicando fisicamente a saúde de cada ser humano detido lá dentro, os trabalhadores da instalação e a saúde da comunidade ao redor – Adelanto precisa fechar.

Para entender melhor o histórico do caso, o organizador da Anistia da Califórnia, Jessward Docena, e eu visitamos San Bernardino e Adelanto no início de março, organizados pela Inland Coalition for Immigrant Justice (ICIJ), um grupo notável de organizadores comunitários que estão apoiando os queixosos neste litígio. O coordenador de políticas, Eddie Torres , e a diretora de defesa de deportação, Lizbeth Abeln , nos levaram em seu “ Adelanto Toxic Tour ” para nos ajudar a entender como os investimentos militares e corporativos, ao longo de décadas, dizimaram comunidades, o meio ambiente e a economia local.

Enquanto subíamos as colinas cobertas de neve em direção ao Alto Deserto do California Inland Empire, Eddie e Lizbeth descreveram sua visão. San Bernardino tem mais terras do que qualquer condado nos Estados Unidos (é cerca de ¾ do tamanho da Irlanda) e faz fronteira com Los Angeles. Poderia e deveria ser um centro de comunidades diversificadas e prósperas, indústria sustentável e beleza natural. Em vez disso, um jovem que quer ficar em Adelantopodem encontrar trabalho em uma das três prisões, o centro de detenção do ICE, uma empresa de logística como Amazon ou FedEx, ou para uma crescente indústria de cannabis que consome grande parte do já escasso abastecimento de água – mas isso é tudo. Mesmo o café local não pode ficar aberto sete dias por semana. Eddie e Lizbeth compartilham uma esperança inspiradora de uma “transição justa” para suas comunidades, mesmo enquanto nos arrastamos por uma rodovia cheia de caminhões corporativos que tornou o condado de San Bernardino o mais poluído do país .

Desde que a Base da Força Aérea de George foi desativada em 1992, deixando para trás toxinas de combustível de aviação e material radioativo no solo, a base foi designada como Superfund pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (US EPA) para gerenciamento e limpeza devido à contaminação do local por materiais perigosos. A GEO viu uma oportunidade e expandiu seu controle carcerário sobre a comunidade com a promessa fracassada de empregos e desenvolvimento econômico. A decisão deles fez sentido para os acionistas – 589 das 1.821 prisões federais e estaduais nos Estados Unidos estão localizadas a 3 milhas de um local do Superfund . A terra é mais barata, a regulamentação e a fiscalização são mais leves, os lucros podem ser astronômicos. A GEO faturou mais de US$ 2 bilhões no ano passado.

Mas agora que Adelanto e grupos de direitos dos imigrantes como o ICIJ estão se organizando, a realidade do GEO ficou complicada; eles enfrentaram protestos, greves de fome, inquéritos do Congresso e até legislações estaduais como SB 29 e AB32, que desafiaram empresas prisionais privadas na Califórnia. Agora eles enfrentam um processo que pode fechar a instituição de vez. A dura realidade é que o centro não é apenas desumano, é inseguro para todos lá. A água no centro de detenção e em Adelanto está descolorida. Devido aos contaminantes, tem um sabor distinto que indica que algo não está certo. Mesmo quando fervido, deixa uma mancha amarela. Em 2020, a Agência de Proteção Ambiental enviou ao CEO da GEO, George Zoley, um aviso de advertência pelo uso de pesticidas sem avisos para notificar as pessoas nas instalações. Como disse o pastor Hugo Gómez ao ICIJ: “A água potável que eles nos fornecem dentro da instalação está contaminada… Sinto-me mal cada vez que consumo grandes quantidades”.

É hora de fechar o Adelanto e enfrentar a verdade que a “Turnê Tóxica” do ICIJ deixa tão claro: os dias do GEO de lucrar com o sistema de imigração e a saúde da comunidade de Adelanto precisam terminar.

*Paul O’Brien é o diretor executivo da Amnistia Internacional dos EUA.