
Já não pensamos em nossa rotina sem o uso de celulares, tablets, videogames e até relógios digitais: as telas estão por toda parte. Para muitas famílias e educadores, é um dilema. Por trás de cada clique na tela, há uma reação química no cérebro. Sons rápidos, imagens coloridas, recompensas imediatas… tudo isso ativa circuitos neurológicos sensíveis à dopamina, o neurotransmissor do prazer e da motivação. Em excesso, esse estímulo pode criar um padrão de gratificação instantânea, que afeta a capacidade de foco, autocontrole e aprendizagem, especialmente em cérebros ainda em formação.
Mas em que medida estamos exagerando no tempo de exposição das crianças aos dispositivos? E o que diz a Ciência sobre os efeitos desse uso no desenvolvimento infantil? À primeira vista, os benefícios parecem claros: jogos interativos, vídeos educativos, aplicativos de leitura e até apoio para crianças com dificuldades de aprendizagem. Mas quando o tempo diante da tela ultrapassa os limites saudáveis, os riscos também aparecem e estão cada vez mais documentados em estudos científicos.
A fase mais sensível do cérebro
Com menos de 2 anos, o cérebro infantil passa por um período crucial para o desenvolvimento da linguagem, atenção e habilidades sociais. Um estudo japonês com mais de 7.000 crianças revelou que quem passou de 2 a 4 horas por dia em frente a telas aos 1 ano, em comparação com menos de 1 hora, teve até 5 vezes mais probabilidade de apresentar atraso em comunicação aos 2 anos, e 2,7 vezes mais chance de atrasos em resolução de problemas aos 4 anos. Mesmo com 1 a menos de 2 horas diárias, os riscos foram maiores: 61% mais chances de atraso de linguagem, 74% maior chance de atraso motor fino e maiores riscos nas áreas pessoal, social e cognitiva aos 2 anos. Outra pesquisa australiana usou tecnologia de gravação doméstica para registrar ambientes naturais de 220 famílias, entre 12 e 36 meses de idade. O resultado foi impactante: cada minuto extra de tela correspondia a sete palavras a menos que a criança ouvia, cinco palavras a menos faladas por ela e uma conversa a menos por dia. Com média diária de quase três horas de tela, cada criança deixou de ouvir cerca de 1.139 palavras por dia, comprometendo o desenvolvimento verbal. Não apenas a quantidade, mas o modo como a criança interage com a tecnologia é essencial. A AAP (American Academy of Pediatrics) recomenda zero tela para menores de 2 anos e no máximo 1 hora por dia para crianças entre 2 e 5 anos, sempre com conteúdo educativo e mediação adulta. Pesquisadores ressaltam que telas são menos prejudiciais quando usadas de forma compartilhada com adultos e integradas a atividades interativas, visto que o ambiente familiar e a presença parental são determinantes no impacto do conteúdo digital.
A boa notícia é que a relação criança‑tela pode ser positiva quando usada com intencionalidade. Quando bem planejados e acompanhados, aplicativos educativos e vídeos infantis de qualidade ajudam no desenvolvimento de linguagem, raciocínio lógico e habilidades sociais. Assim como qualquer estímulo sensorial, o uso de telas provoca uma resposta bioquímica no cérebro infantil: dopamina, cortisol (em caso de estresse), melatonina (sono ou a falta dela), noradrenalina (atenção) e serotonina (humor) são parte da equação. Segue, portanto, uma proposta estratégica para uso equilibrado:
* Limite o tempo de tela: máximo de 1 hora por dia para crianças entre 2‑5 anos; evite qualquer uso antes dos 2 anos.
* Prefira conteúdo interativo e educativo, com mediação e diálogo.
* Estabeleça horários livres de telas durante refeições e na hora de dormir à noite, por exemplo, para permitir a produção natural de melatonina;
* Estimule atividades off-screen, como brincadeiras ao ar livre, leitura e jogos que promovam criatividade e socialização.
* Escolha conteúdos interativos e educativos, e não passivos ou hiper estimulantes;
* Dê pausas regulares e estimule atividades off-line para equilibrar dopamina e bem-estar;
* Converse sobre o que foi assistido, isso ajuda a consolidar aprendizados e vínculos afetivos.
Lembre-se que a infância é o momento mais crítico de formação cerebral e emocional. Exposição excessiva a telas pode prejudicar desenvolvimento da linguagem, capacidade de resolver problemas e interação social, especialmente se não houver contexto familiar e diálogo. Mas com uso consciente, as telas podem ser ferramentas poderosas de estímulo, aprendizado e inclusão.
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Matéria original por Nossa Gente
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