Como uma rede de liquidações virou o paraíso das pechinchas para turistas, imigrantes e locais — e o que está por trás dos preços baixos
A cena se repete em cerca de 2.000 lojas ao redor dos Estados Unidos: dezenas de pessoas aguardam na fila da Ross Dress for Less antes mesmo da abertura. Entre carrinhos abarrotados e olhares atentos às etiquetas, ouvem-se frases como:
“Achamos um Calvin Klein por US$9!”
“Olha esse tênis Skechers por metade do preço!”
Mas o que faz essa loja — desconhecida por muitos no Brasil — ser a queridinha, principalmente dos brasileiros, turistas ou moradores, nos EUA? Como uma rede que vende de panelas a perfumes de grife consegue oferecer descontos de até 80%? E por que, mesmo com a concorrência de lojas como Burlington, TJ Maxx e Marshalls, a Ross virou quase uma “obrigação cultural” para moradores e visita obrigatória para o turismo de compras?
A devoção quase religiosa por uma loja que muitos nem conheciam antes de pisar em solo americano pode ser explicada por um modelo de negócios inteligente — e um pouco caótico — que cativa quem busca qualidade por preços irrisórios.
O modelo de negócios da Ross que desafia o varejo tradicional
A primeira pergunta que surge ao entrar em uma Ross é: como eles conseguem vender produtos de marca por uma fração do preço? A resposta está em uma estratégia agressiva de compra de estoques excedentes e uma logística que elimina gastos supérfluos.
A Ross opera como um “resgate” de mercadorias que outras redes não conseguiram vender. Quando grandes varejistas cancelam pedidos ou quando fabricantes produzem em excesso, a Ross compra esses estoques a preços irrisórios. Eles adquirem lotes inteiros por, às vezes, centavos no dólar. Isso permite margens de lucro mesmo com descontos profundos.
Outro segredo é a ausência de investimentos pesados em marketing ou lojas luxuosas. Enquanto redes tradicionais gastam fortunas em vitrines e publicidade, a Ross corta esses custos e repassa a economia em preços baixos. O layout desorganizado — que muitos clientes reclamam, mas que é intencional — também reduz gastos com organização e pessoal.
A incansável busca pelas pechinchas na Ross
Não, não é simples encontrar as melhores oportunidades. Você vai perder horas percorrendo corredores abarrotados, revirando pilhas de roupas e acessórios no método “um a um”, como um garimpeiro em busca de ouro.
A experiência é tão caótica quanto fascinante — produtos desorganizados de propósito, etiquetas de preço escondidas e a constante sensação de que a verdadeira pechincha está sempre na próxima prateleira. Mas a única certeza absoluta nessa caçada é que, cedo ou tarde, você encontrará algo que valha todo esse esforço. Seja naquela loja específica ou em alguma das cerca de 2.000 unidades espalhadas pelos Estados Unidos, a Ross sempre reserva suas joias escondidas para os mais persistentes.
E é justamente essa imprevisibilidade que vicia. Como um cassino onde a casa sempre perde, a Ross oferece a emoção da descoberta a cada visita. Enquanto em outras lojas você sabe exatamente o que vai encontrar e por quanto, na Ross cada ida é uma aventura única — pode ser o dia em que você encontra um vestido de festa de grife por US$20 ou a vez em que sai de mãos abanando depois de duas horas de busca.
Essa combinação de incerteza e recompensa ocasional é o que transforma uma simples compra em uma experiência quase lúdica, explicando por que tantos brasileiros se tornaram verdadeiros “caçadores de descontos” obsessivos.
Por que os brasileiros se apaixonaram pela Ross?
Para entender a relação entre a Ross e os brasileiros, é preciso olhar para três fatores: economia, nostalgia e um toque de sorte.
Muitos brasileiros chegam aos EUA com orçamentos apertados, e a Ross oferece a chance de comprar marcas que no Brasil seriam inacessíveis. Um par de tênis de grife que custaria R$600 em São Paulo pode ser encontrado por US$29.99 na Ross. Panelas de marca, que no Brasil são vendidas como produtos premium, aparecem nas prateleiras por preços que beiram o absurdo.
Há também um elemento psicológico: uma boa compra vira uma pequena vitória. Essa sensação de conquista é amplificada pela cultura de compras que muitos brasileiros trazem de casa, onde a busca por boas ofertas é quase um esporte.
Os segredos da Ross que nem todos conhecem
Nem tudo são flores na Ross. Algumas armadilhas escondem-se por trás das pechinchas:
Qualidade variável
Muitos produtos são de coleções passadas ou têm pequenos defeitos (uma costura irregular, um zíper ligeiramente torto).
Eletrônicos e perfumes podem estar perto da data de validade.
Política de devolução restritiva
Sem nota fiscal, é quase impossível devolver um produto.
Preços diferentes por região
Lojas em bairros ricos têm marcas melhores, mas os preços podem ser mais altos.
Vale a pena? Dicas para aproveitar ao máximo
Para quem quer se aventurar na Ross sem frustrações, especialistas e clientes veteranos dão algumas dicas:
Visite as lojas às terças-feiras
É quando novos estoques chegam.
Procure etiquetas amarelas
Elas indicam descontos adicionais.
Evite eletrônicos
A menos que esteja disposto a correr riscos maiores.
Em resumo, a Ross Dress for Less se tornou um verdadeiro fenômeno entre turistas e moradores, especialmente brasileiros, que buscam qualidade a preços acessíveis. O modelo de negócios da empresa, aliado à experiência única de compras, transforma cada visita em uma aventura emocionante. Com as dicas certas, é possível maximizar as chances de encontrar verdadeiras joias escondidas nas prateleiras da loja. Portanto, se você estiver nos Estados Unidos, não deixe de visitar uma Ross e se juntar à legião de caçadores de pechinchas!